Caminhos sustentáveis e tecnológicos para prevenção e combate aos incêndios nos canaviais
Por Ricardo Giacomello
Diretor Operações Agrícolas da Raízen
O debate acerca da preservação do meio ambiente está ganhando cada vez mais força. E não é para menos: é fundamental considerarmos os impactos que nossas ações têm no resto do planeta. Esta preocupação vem se estendendo a todas atividades, mas sendo ampliada cada vez mais no agronegócio, em especial, no setor sucroenergético. O segmento está se modernizando em várias frentes de atuação, mas um ponto que merece destaque são os esforços desprendidos na prevenção e combate aos incêndios nos canaviais.
Qualquer empresa responsável deve preocupar com o impacto ambiental que a sua operação gera. Hoje em dia, para se manter no mercado, ter uma atuação comprometida com o meio ambiente é tão importante quanto oferecer um produto ou serviço competitivo e atrativo. Nisso, o combate ao fogo nos canaviais é um desafio constante para todos os produtores do ramo, historicamente associados aos incêndios.
No passado, o crescimento da demanda interna e externa por etanol abriu caminho para avanços tecnológicos em busca de ganhos de eficiência e produtividade no campo. Por outro lado, essa expansão trouxe como consequência a preocupação da sociedade brasileira em relação aos impactos econômicos, sociais e ambientais do setor sucroenergético. Em 2007, a chegada do Protocolo Agroambiental, acordo voluntário pioneiro que tem como um de seus objetivos eliminar as queimadas no processo produtivo, marcou uma mudança de chave no segmento. Após ele, empresas e produtores passaram a realizar investimentos expressivos na aquisição de máquinas, adequação das áreas de cana, recuperação de matas e requalificação de mão de obra.
Novos desafios
Adicionalmente a esses investimentos, o segmento começou a enfrentar novos desafios em toda a sua cadeia produtiva como, por exemplo, a demanda por novos equipamentos e técnicas de manejo agrícola. Com o constante trabalho em combater incêndios e a utilização de infraestruturas pioneiras para controlar o fogo nas lavouras, a palha, composta por folhas secas e ponteiros, tornou-se uma importante matéria-prima na produção de biomassa nas usinas, por exemplo. Ao deixar de queimar a palha da cana e fazer a colheita mecanicamente – técnica que possibilita maior ganho ambiental e melhoria da qualidade do solo –, as empresas e os produtores rurais conseguem reduzir a emissão de poluentes atmosféricos e gases de efeito estufa em suas operações. Atualmente, incêndio em canavial é sinônimo de perda de produtividade, não ganho.
A velocidade com que um incêndio pode evoluir pode ser instantânea, portanto, quanto mais cedo for dado o aviso, menor será o impacto. Nesse aspecto, a tecnologia é uma grande aliada. Em um período de grandes desafios enfrentados pelo setor de açúcar e álcool, principalmente devido à seca, as inovações logísticas são fundamentais para trazer competitividade ao negócio, controlando custos e mitigando riscos.
Antes de tudo, as soluções usadas nos canaviais têm a obrigação de preservar o bem maior da agricultura, o solo. Dessa forma, as empresas precisam se atentar ao impacto que suas atividades podem causar no meio ambiente, implantando processos que minimizem a degradação ambiental e os impactos dos incêndios nos canaviais. Em sua tradição de inovar, o setor sucroenergético aprimora a produção, capacita os trabalhadores e colabora com o meio ambiente com o uso de tecnologias como satélite, câmeras sensoriais, veículos rápidos, caminhões pipa automatizados e outras soluções.
Tecnologia
Como exemplo, a utilização de imagens espaciais na agricultura tem se tornado cada vez mais comum. A tecnologia auxilia no desenvolvimento de rotinas de monitoramento de focos de calor utilizando informações geoespaciais, cujos dados são usados para compor um plano de ação. Com a evolução dos equipamentos é possível o acompanhamento remoto e detalhado das ocorrências, sendo esta uma tecnologia de grande valia nos canaviais, especialmente no Brasil, país de dimensões continentais.
Nesse cenário, as câmeras sensoriais também são fortes aliadas na prevenção aos incêndios. O algoritmo detecta chamas e fumaça diretamente da fonte. Com dispositivos de alta resolução instalados em pontos estratégicos dos canaviais, a tecnologia consegue mapear incêndios em tempo real, quando identificados.
Esta solução, aliada ao trabalho de prevenção por meio de patrulhamento, torres de observação para vigilância 24 horas, investimentos no uso de satélites e veículos de intervenção rápida, entre outras ações já existentes de combate ao fogo, se tornaram ferramentas estratégicas indispensáveis para minimizar as perdas.
Vemos que os benefícios tecnológicos em campo são muitos, havendo uma forte tendência à automação e ao uso intenso de recursos para mitigar os impactos dos incêndios, aumentar a eficiência das ações preventivas e de combate e incrementar a qualidade produtiva do setor de forma sustentável. O fato é que precisamos cada vez mais inseri-las nos projetos em campo, só assim conseguiremos disponibilizar informação qualificada e transformá-la em novas soluções personalizadas que continuarão revolucionando toda a cadeia produtiva.