Devastação causada por incêndios florestais de 2017 estimula moradores por busca de conhecimento sobre fogo

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Por Jesse Roman

No início de outubro, incêndios florestais avançando rapidamente açoitaram vastas áreas da região vinícola do norte da Califórnia, alimentados pelas condições extremamente secas e empurrados pelos fortes ventos de Santa Ana. Um desses incêndios, chamado Tubbs, devastou bairros suburbanos densamente povoados da cidade de Santa Rosa, reduzindo à cinzas inteiros quarteirões residências. Nos dias que seguiram ao incêndio, os residentes dum dos bairros, Coffey Park, começaram a ultrapassar uma barreira improvisada para examinar os danos, apesar da ordem contrária da polícia. Além da cinza e dos escombros, a maioria das pessoas não encontrou quase nada de suas casas incineradas.

“Esta é a nossa única vida. Agora, acaba de desaparecer,” disse Veomany Thammasoth, residente de Coffey Park, ao jornal The Press Democrat, enquanto um parente levava um cofre metálico retirado dos restos da casa que tinha pertencido à família por 30 anos.

Pelos menos 1,400 casas desse conjunto de loteamentos com ruas sem saída, antes idílicos da margem norte de Santa Rosa arderam. Eram aproximadamente a metade do total de residências destruídas em toda a cidade pelos incêndios Tubbs e Nuns, dois das duas dúzias de incêndios florestais que devastaram a região vinícola da Califórnia em outubro. No seu conjunto, os incêndios destruíram ou danificaram mais de 14,700 casas, 728 empresas e mataram 44 pessoas.

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Agora, enquanto os residentes se concentram na recuperação, numerosas preocupações disputam sua atenção. As vítimas dos incêndios precisam de apoio, alojamento e, finalmente, do dinheiro dos seguros.

Os lideres da comunidade devem decidir como reconstruir de forma inteligente e correta, tudo isso enquanto lidam com uma crise humanitária e perdas significativas em impostos sobre a propriedade. As vítimas, que sofreram uma perda pessoal imensa, devem lutar com questões difíceis que dizem respeito à decisão de reconstruir, como reconstruir e até se têm o dinheiro para fazê-lo.

Uma questão subjacente, essencial para o futuro dos residentes, é como Santa Rosa pode evitar a repetição desse tipo de evento.

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Não é a primeira vez que a cidade enfrenta esse problema. Em 1964, o Incêndio Hanley destruiu partes de Santa Rosa num percurso muito similar ao dos incêndios Tubbs em outubro. Contudo, enquanto Hanley atingia uma região na sua maior parte rural habitada por 30,000 pessoas, Tubbs encontrou uma zona suburbana com 175,000 residentes, com milhares de estruturas vulneráveis aglomeradas. Como resultado, a destruição foi muitas vezes superior à que ocorreu 50 anos atrás.

O que encontrará o próximo incêndio florestal na sua corrida inevitável pela ladeira oriental do novo Coffey Park? As comunidades castigadas do norte da Califórnia poderão se proteger ou estão destinadas a sofrer o mesmo destino indefinidamente?

QUANDO FAZEMOS ESSAS PERGUNTAS aos especialistas dos incêndios florestais, as respostas são ao mesmo tempo alentadoras e terrivelmente frustrantes. Eles dizem que há muitas coisas que as comunidades poderiam fazer, através do planejamento do uso do solo e dos regulamentos de construção para ajudar a travar o potencial destrutivo dos incêndios florestais. De fato, muitos peritos acreditam que já sabemos o suficiente sobre a ciência da ignição das casas para evitar em grande medida que as casas e outras edificações queimem durante os incêndios florestais.

“Acredito, e penso que a maioria dos profissionais neste campo pensa o mesmo, que poderíamos construir hoje comunidades resistentes à ignição onde as pessoas nem precisariam abandonar suas casas durante um incêndio florestal—o incêndio poderia atravessar o bairro sem afetar nenhuma das estruturas,” disse Gary Marshall, quem foi muito tempo inspetor de incêndio em Bend, Oregon, e dá cursos sobre a ignição das casas nos incêndios florestais para a NFPA. “Ouvimos sempre que o problema dos incêndios florestais é apenas um problema de saúde da floresta, mas não é. É um problema estrutural.”

Jack Cohen, um dos principais especialistas da ignição de estruturas em incêndios florestais no país, passou 40 anos como pesquisador do U.S Forest Service, estudando as diferentes formas em que os incêndios florestais podem causar a ignição das casas. Ele diz que, na grande maioria dos casos, as casas não queimam por contacto direto com o incêndio, mas pelas brasas provenientes da frente do incêndio. Através do projeto da casa e da escolha dos materiais de construção—tetos metálicos, proteção das calhas, cascalho em vez de cobertura do solo com matéria orgânica (mulch) nas entradas, decks feitos de materiais compostos em lugar de madeira—as casas podem ser suficientemente consolidadas para evitar sua ignição pelas brasas. Manter um espaço de trinta metros em volta das casas livre de coisas como matagal seco, capim alto e cercas de madeira pode cortar outros caminhos de chegada do fogo até a casa. Combinados, esses métodos demonstraram, em muitos experimentos, a capacidade de reduzir drasticamente a probabilidade da ignição da casa, disse Cohen. E são todas medidas que os governos locais podem introduzir por meio dos códigos e posturas municipais durante o processo de licenciamento das construções. A NFPA 1141, Infraestrutura de Proteção Contra Incêndio em Zonas Naturais, Rurais e Suburbanas e a NFPA 1144, Redução dos Riscos de Ignição das Estruturas Derivados dos Incêndios Florestais proporcionam orientação.

“Não podemos reduzir a zero a probabilidade de ignição porque não é realista esperar que todos removam as agulhas dos pinheiros das calhas ou mantenham a lenha afastada dos decks da mesma forma que nossos códigos de incêndio não podem evitar que as pessoas tenham velas acesas perto das cortinas de pano,” disse Cohen. “Mas a verdade é que as principais condições que determinam a ignição da casa ocorrem num raio de trinta metros em volta da casa, incluindo a própria casa. Se lidamos com isso, podemos prevenir em grande medida as ignições por incêndios florestais.”

Em áreas mais densamente povoadas como Coffey Park, a situação é um pouco diferente—Não são as brasas que causam a maior parte dos danos diretos, mas é o fogo que se propaga de casa em casa numa reação em cadeia similar a dos grandes incêndios do século 19. As brasas apenas desencadeiam o efeito dominó. Nessas áreas urbanas, os regulamentos de construção destinados a limitar a ignição das casas pelas brasas e os regulamentos que limitam os elementos que podem ser colocados entre e em volta das casas, como tipos de plantas, cobertura do solo com mulch, janelas, galpões e cercas podem prevenir em grande parte o tipo de destruição extensa que ocorreu em Coffey Park, disse Cohen.

Essas são noticias alentadoras. O aspecto negativo para os defensores de longa data da prevenção é que, por vários motivos, demasiadas comunidades que enfrentam riscos sérios de incêndios florestais não requerem que os proprietários ou os construtores tomem essas medidas. Mesmo em lugares como Santa Rosa, onde os riscos não poderiam ser mais claros do que são agora, Cohen acredita que é provável que não sejam adotados códigos ou regulamentos adicionais sobre incêndios florestais em áreas de alto risco para reduzir as possibilidades que a comunidade arda por terceira vez. “Não tenho esperança que se produza uma mudança importante,” ele disse sem meias palavras. “Mas o motivo pelo qual estou falando convosco e o motivo pelo qual ficarei envolvido e enfocado nesta questão mesmo depois de me aposentar, é que existe o potencial para fazer algo. Às vezes devo pôr em segundo plano minha esperança duma sociedade mais racional.”

Os primeiros sinais em Santa Rosa sugerem que o pessimismo de Cohen está justificado. De acordo com informações dos meios locais, o conselho municipal de Santa Rosa até agora optou por apressar o trabalho de reconstrução pela adoção de medidas de emergência cujo objetivo é acelerar a emissão de licenças de construção. Isso inclui eliminar as taxas e dar ao pessoal municipal novas e amplas competências para aprovar rapidamente os pedidos, limitando a análise pública. Espera-se que essas novas construções estejam bem encaminhadas até a primavera. Muitos funcionários municipais, incluindo o prefeito, apóiam esta abordagem centrada nas vitimas.

Outros, contudo, expressaram sua preocupação. Julie Combs, membro do conselho municipal de Santa Rosa, afirmou numa reunião realizada em outubro que é imediatista permitir que as casas sejam reconstruídas antes que se considerem possíveis mudanças dos códigos de segurança contra incêndio para protegê-las. “Preocupa-me muito que construções que acabam de ser destruídas pelo fogo sejam construídas numa zona de risco de incêndio, sem cumprir os novos códigos surgidos das lições aprendidas neste incidente,” disse Combs, de acordo com o The Press Democrat.

Alguns residentes expressaram a mesma preocupação. “A localização de nossa comunidade numa zona de risco de incêndio pôs-nos a todos em perigo e nos assustou terrivelmente,” disse a residente Marsha Taylor ao conselho municipal. “Precisamos ir mais devagar, devemos pensar e olhar para os erros de planejamento urbano que fizemos no passado e questioná-los agora, e não repetir sempre os mesmos erros.”

Mas as vozes da prudência parecem estar perdendo contra aqueles que querem que as coisas voltem à normalidade tão rapidamente como possível. Logicamente, a simpatia para as vitimas e a vontade de facilitar o caminho da recuperação tem muita força. “Deveríamos ouvir os desejos [dos residentes], e não dizer o que é melhor para eles,” disse Tom Schwedhelm, residente de Coffey Park.

O editor-chefe do The Press Democrat, Paul Gullixon, rejeitou fortemente qualquer argumento a favor de novos códigos e regulamentos. “Não, não devemos pensar, planejar e estabelecer novas regras para serem aplicadas [pelas vítimas do incêndio]. Elas têm o direito de construir suas casas tal como estavam antes… e eu acredito que elas não precisam ser lembradas dos perigos do fogo. Não posso imaginar nada mais frustrante para esses residentes, depois de tudo que passaram, que ver pessoas esfregando as mãos com a esperança de usar esse incêndio para corrigir alguns erros passados de planejamento. Esta catástrofe pode ser muitas coisas. “Mas não é uma oportunidade para reformar a comunidade.”

Mesmo com o desenvolvimento dos conhecimentos científicos sobre os incêndios florestais e as causas de ignição das casas, o número de casas destruídas pelos incêndios florestais a cada ano está crescendo.

Não há um método abrangente para manter o registro de quantas casas se perdem a cada ano nos Estados Unidos, mas o National Interagency Fire Center (NIFC) mantém o registro do número de casas perdidas nos maiores incêndios florestais no país. Entre 1985 e 2000, os dados do NIFC mostram que 400 residências foram destruídas em média em grandes incêndios florestais a cada ano. Entre 2001 e 2011, o numero saltou a 1,345 e durante os cinco anos de 2012 a 2016, 3,456 residências foram destruídas, em média, a cada ano pelos incêndios florestais. Com mais de 6,000 casas destruídas em outubro passado somente na Califórnia, o ano 2017 verá um novo aumento das médias anuais.

Os motivos desses aumentos radicais são multifacetados. Uma história de supressão agressiva dos incêndios florestais que ocorrem naturalmente resultou num excesso de combustível pronto a queimar no ambiente. As temperaturas em aumento secam esse combustível excedente, fazendo que os incêndios iniciem mais facilmente e se propaguem com maior velocidade, tornando sua extinção mais difícil. Entretanto, as pessoas estão construindo cada vez mais estruturas em áreas sujeitas aos incêndios, conhecidas muitas vezes como a interface urbano-florestal (wildland/urban interface—WUI).

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As tendências da construção sugerem que é particularmente importante encontrar e aplicar estratégias para reduzir as perdas nos incêndios florestais. O US Forest Service estimou em 45 milhões as casas situadas na WUI nos Estados Unidos em 2005 e suas projeções indicam um aumento desse número em 40% até 2030. Headwaters Economics, um grupo de pesquisa baseado em Montana que estuda os incêndios florestais e a urbanização, relatou que “grande parte das terras urbanizáveis nos Estados Unidos é sujeita aos incêndios florestais”, o que significa que existe a possibilidade duma futura escalada do impacto dos incêndios florestais na WUI. Tudo isso indica que se não formos capazes de corrigir a atual trajetória, poderíamos enfrentar um problema muito maior num futuro não tão distante.

A evolução vai depender em grande medida das comunidades locais, que são os primeiros reguladores da urbanização e do uso do solo na WUI, de acordo com Ray Rasker, diretor executivo da Headwaters. Além da pesquisa, o grupo dirige também o programa Community Planning Assistance for Wildfire, financiado com fundos federais, que proporciona a comunidades selecionadas uma assistência gratuita para um planejamento do uso do solo relacionado com os incêndios florestais. Rasker pensa que um dos principais fatores que impede a adoção de práticas de gestão do uso do solo mais inteligentes – “a falha fundamental do sistema”, como a descreve – é uma separação entre as decisões tomadas pelos governos municipais em relação à urbanização e as conseqüências dessas decisões.

“Existe um forte incentivo para que os funcionários locais do condado aprovem praticamente qualquer loteamento—mesmo os propostos em zonas com um elevado risco de incêndios florestais—para aumentar as receitas dos impostos sobre a propriedade,” ele explicou. “Quando surgem problemas, são os bombeiros que pagam por isso, às vezes com a vida, e são os contribuintes ao nível federal e estadual que pagam os milhões de dólares necessários à defesa das casas”. Deve haver uma relação direta entre as decisões dos governos locais que permitem a construção de casas em zonas sujeitas aos incêndios e o dinheiro gasto pelos mesmos governos locais para cobrir pelo menos uma parte das consequências de suas decisões. Não existe uma solução milagrosa [para estabelecer políticas de uso do solo mais inteligentes nas comunidades], mas essa forma pode ajudar bastante. “Se você puder resolver isso, poderá resolver grande parte dos problemas.”

Rasker não acredita que os legisladores queiram castigar as comunidades que acabam de sofrer perdas nos incêndios florestais, obrigando-as a gastar ainda mais dinheiro, mas ele pensa que o governo federal deveria começar a vincular o dinheiro dos subsídios ao cumprimento de regras de uso do solo, da mesma forma que regula os subsídios aos hospitais, os empréstimos para casas e os fundos para as estradas. “O Estado de Montana não tinha limite de velocidade e você podia ter um recipiente com álcool aberto no carro,” ele disse. “Então o governo federal ameaçou cortar os fundos federais para as estradas. Agora temos uma lei sobre recipientes abertos e limites de velocidade. Fomos obrigados a cumprir. Existem formas de incentivar o correto planejamento do uso do solo?”

Além das promessas de dinheiro adicional provenientes dos impostos, ainda ficam elementos que impedem que as comunidades apliquem princípios mais inteligentes de uso do solo, de acordo com os especialistas. A hostilidade em relação à regulamentação, as preocupações quanto aos custos e uma insuficiente compreensão de como e porque as casas queimam nos incêndios florestais são obstáculos significativos. “A questão de fundo é que precisamos mudar nossos comportamentos e isso começa com a educação,” diz Marshall, ex-inspetor de incêndio de Bend, no Oregon. “Devemos conseguir que as pessoas certas nos lugares certos compreendam os fatos de forma a poder avançar com essa questão”.

Os legisladores são também proprietários de casas. Bend é um exemplo de história exitosa. A cidade tem aplicado medidas progressivas de mitigação dos efeitos dos incêndios florestais durante os últimos 40 anos, passando de ser uma comunidade que requeria telhas de madeira por razões estéticas a uma que as proíbe por motivos de segurança. Também adotou uma postura municipal que restringe o tipo de vegetação que pode ser plantada em volta das casas e multa os residentes que não a cumprem.

Marshall disse que os defensores da prevenção dos incêndios florestais na cidade conseguiram mudar a situação por meio de campanhas de conscientização pública, das duras lições aprendidas nos incêndios passados e trabalhando diretamente com os residentes e os legisladores para que compreendam as consequências da falta de ação. A cidade trabalhou também com o programa Firewise®, da NFPA, usando os recursos para educação sobre as comunidades adaptadas aos incêndios florestais

“Penso que, como membros dos bombeiros, devemos ser muito honestos com nossos residentes,” disse Marshall. “Fizemos uma campanha em Bend onde dissemos muito claramente aos residentes que não podemos proteger todas as casas durante os incêndios florestais de grande envergadura. Dissemos-lhes que vamos selecionar as casas em função do grau de manutenção das propriedades. Se vocês tornarem sua casa segura para nós, nós faremos tudo o possível para protegê-la. Se chegarmos e encontrarmos árvores em volta da casa e agulhas de pinheiros no teto, nem vamos entrar.”

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Pouco tempo depois da campanha, Marshall disse que passou perto dum homem que estava cortando a vegetação em volta da casa. “Eu não estava em serviço, usava roupas civis e perguntei, ‘porque esta fazendo isso?’ Ele me disse, ‘Você não ouviu ? Os bombeiros não vão salvar nossas casas se não limparmos,’” disse Marshall.

TALVEZ AS COMPARAÇÕES históricas mais próximas dos incêndios florestais atuais em termos de destruição e frequência sejam os grandes incêndios urbanos de finais do século 19 e início do século 20, que destruíam regularmente cidades como Boston, Chicago, Londres e muitas outras. O grande incêndio de Chicago de 1871, por exemplo, causou danos de 3,3 bilhões de dólares de 2015, de acordo com o departamento de pesquisa da NFPA.

Em comparação, as perdas totais asseguradas nos incêndios do norte da Califórnia em outubro passado chegam agora a mais de 9 bilhões de dólares, de acordo com o Departamento de Seguros da Califórnia. O problema dos incêndios urbanos foi resolvido progressivamente através da pesquisa, da educação pública, de regulamentos inteligentes e da nossa capacidade de adaptação às novas formas de fazer as coisas. Os defensores da prevenção esperam que possamos seguir um caminho similar com os incêndios florestais.

Visto sob essa perspectiva, pareceria que estamos fazendo progressos. Os cientistas dos incêndios florestais confiam em que já temos os conhecimentos suficientes para construir casas resistentes ao fogo e reduzir drasticamente a destruição causada pelos incêndios florestais. Defensores da prevenção como Marshall e Rasker e organizações como os corpos de bombeiros locais e a NFPA estão trabalhando em todo o país para educar os proprietários de casas e os legisladores sobre a forma de construir comunidades mais seguras.

A grande incógnita, porém, e o principal fator de mudança, pode ser a capacidade e a vontade da sociedade de se adaptar—nomeadamente, se pode aceitar que o incêndio florestal acompanha inevitavelmente a paisagem, e voltar-se para a consolidação das estruturas para que sejam resistentes aos incêndios florestais e não para as políticas e práticas de supressão.

Há muito tempo que Cohen defende essa mudança de perspectiva e pensa que, em última análise, é o passo mais importante para a redução das perdas causadas pelos incêndios florestais. Alcançar esse tipo de mudança cultural, contudo, envolverá mais que razão e vontade, ele disse. Isso envolve vencer aquilo que chama de medo “social psicológico” dos incêndios florestais.

“Abominamos totalmente os incêndios florestais—não podemos lidar com eles,” disse Cohen. “Quando vemos as condições extremas do comportamento do fogo, a escala e o tamanho das chamas, a extensão da frente de chamas, a altura da coluna de fumaça e a taxa de crescimento do incêndio, tudo isso desestabiliza emocionalmente as pessoas”.

Em consequência disso, durante décadas a política dominante no país em relação aos incêndios florestais tem sido extinguir os incêndios logo no início, ignorando o fato que foram um componente necessário dum ecossistema saudável e natural durante milhões de anos. Cohen e outros consideram essa política como um fracasso absoluto.

As estatísticas, que mostram aumentos importantes tanto das perdas de propriedade como dos custos de supressão durante a última década, tornam difícil discutir a questão. Enquanto a abordagem de supressão a todo custo diminuiu de certa forma nos últimos anos, a estratégia fica arraigada na psique de instituições e cidadãos, alega Cohen, e extirpá-la para introduzir outras estratégias, possivelmente melhores, pode ser uma tarefa árdua. As pessoas esperam que o governo faça tudo o possível para apagar os incêndios, aconteça o que acontecer.

“Sabemos que não podemos controlar os furacões ou os tornados, mas temos a concepção errada de que podemos e devemos controlar os incêndios florestais,” diz Cohen. “A perspectiva é que, se os bombeiros ou o governo tivessem feito seu trabalho e usado o dinheiro dos impostos corretamente, eles poderiam ter parado um incêndio florestal no momento em que caiu o raio – não importa onde ou quantos raios havia, o sentimento é sempre ‘eles deviam pará-lo`. Não existe nenhum reconhecimento das realidades da natureza.”

Para Cohen e outros, o incêndio florestal não é um problema que devemos vencer, mas um elemento natural que devemos aceitar e ao qual devemos nos adaptar. Ver a questão através desse prisma é essencial se esperamos vencer nossa obsessão com a supressão e começar a construir de forma inteligente para resistir a um evento natural inevitável. Durante séculos vimos o incêndio florestal como o problema, quando de fato o problema é nosso.

“Os incêndios florestais são inevitáveis. Os incêndios florestais em condições extremas são inevitáveis. Isso não significa que a destruição seja inevitável,” disse Cohen. “Esta premissa está totalmente ausente de quase todas nossas políticas e atividades relacionadas aos incêndios florestais. Em lugar disso, nos concentramos na coisa que temos poucas possibilidades de controlar, e por isso somos incapazes de fazer algo produtivo.”

Jesse Roman é editor associado do NFPA Journal

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