Mas quem salva os bombeiros?

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Por major BM Nivaldo Soares

2º vice-presidente e diretor do Departamento do Bombeiro Militar da Associação dos Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais (AOPMBM)

 

 

Não é incomum se deparar com discursos que atrelem o trabalho do bombeiro a gestos heróicos, seres capazes de salvar vidas. Somos tidos como protagonistas das piores tragédias, figuras confiáveis e imbatíveis, afinal, podemos ajudar até mesmo por meio de uma ligação. Claro, nós somos treinados para atuar em quaisquer tipos de salvamentos, de incêndios a calamidades, do resgate de seres humanos a gatinhos presos em árvores. Mas, se nós salvamos a população, quem nos salva?

Neste mês a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a reconhecer a Síndrome de Burnout como uma doença ocupacional, isto é, “resultante de um estresse crônico associado ao trabalho”. Por termos como missão básica a preservação da vida, do meio ambiente e do patrimônio, estamos sujeitos a riscos inerentes à atividade, que podem ser físicos, biológicos, mecânicos ou psicossociais.

Tanto uma exposição às substâncias químicas, o manuseamento de cargas, a agressividade e potencial violência daqueles que consideram a nossa presença inoportuna quanto os turnos prolongados ou a vivência frequente de tragédias causam danos ocupacionais e adoecimento à classe. Por exemplo, no Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), a operação em Brumadinho, que completou três anos, assim como as buscas em Capitólio ou nos inúmeros municípios mineiros atingidos pelas fortes chuvas, que causaram inundação e desabamentos.

 

Escuta ativa

 

São imensuráveis os impactos dessa profissão, que demanda de seus agentes tamanha exigência física, cognitiva, social e emocional. Ao estarem cara a cara com cenas fortes, como a morte iminente, os bombeiros precisam lidar com situações traumáticas em seu cotidiano e, muitas vezes, sem suporte adequado. Os bombeiros e policiais militares estão entre os dez profissionais que mais se expõem a acidentes por agentes biológicos.

Pensando nisso, a Associação dos Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (AOPMBM) criou o Departamento do Bombeiro Militar, cuja missão é o olhar atento, a escuta ativa das principais demandas e defesa exclusiva dos bombeiros militares mineiros, verdadeiros patrimônios do estado.

Mas é preciso ir além: o estado é responsável pela corporação e a valorização desses profissionais, que vão desde a viabilização de salários justos, condizentes com a profissão, quanto o fornecimento de recursos e elementos adequados e imprescindíveis ao trabalho, como viaturas e equipamentos de proteção individual e um trabalho preventivo para que a forte carga afetiva não ultrapasse as fronteiras do trabalho e inunde a vida familiar e social.

Não obstante, a profissão precisa ser descontruída pela população. O bombeiro é tido como herói e, justamente por isso, é um dos profissionais dos quais a sociedade e o poder público não admitem falhas. Mas, antes de ser um salvador, o bombeiro é um ser humano como qualquer outro que ele resgata. Um profissional que possui medos, dúvidas e angústias e que é incapaz de salvar tudo e a todos. Um trabalhador que, no final do dia, também precisa ser salvo.

 

Fonte: O Estado de Minas

 

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