Documentário independente sobre incêndios no Pantanal conquista prêmio de sustentabilidade

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“Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas”, filme do documentarista Lawrence Wahba, vence o Prêmio Mérito de Sustentabilidade da 40ª edição do Wildscreen Festival, na Inglat. A obra foi condecorada com premiação na categoria ‘Mérito de Sustentabilidade’, na qual concorreu com 700 produções de 38 países.

Ao longo dos últimos 30 anos, o documentarista de natureza Lawrence Wahba fez dezenas de expedições ao Pantanal. A 44ª delas, em março de 2020, foi, no entanto, o início de um duplo pesadelo. Enquanto realizava as primeiras filmagens sobre as belezas do Pantanal, numa área remota da maior planície alagável do planeta, o diretor foi surpreendido com o anúncio de que a OMS (Organização Mundial da Saúde) havia decretado a pandemia de Covid-19.

No retorno emergencial para isolar-se em São Paulo, cidade onde reside, ao sobrevoar o Pantanal Wahba foi surpreendido por focos de incêndio atípicos para aquele período do ano. Era o presságio de uma ameaça igualmente assombrosa: a escalada de queimadas jamais vistas, muitas delas de origem criminosa e que, entre junho e outubro de 2020, devastaram o Pantanal, deixando um saldo de mais de 15 milhões de animais mortos e um prejuízo ambiental sem precedentes.

 

Brigada Alto Pantanal

 

Recluso em casa e desolado com o que via à distância, em agosto, Wahba idealizou a formação de uma brigada de incêndio que logo contou com o crescente apoio de voluntários. No começo de setembro, o documentarista ignorou os riscos da pandemia e decidiu partir para o Pantanal, a fim de se juntar ao grupo de profissionais e voluntários que, dia e noite e na contramão da omissão do Governo Federal, não media esforços para tentar combater o fogo, minimizar o impacto das queimadas e salvar animais.

Chegando lá, ao se dar conta da dimensão da tragédia e do diminuto grupo destacado por órgãos governamentais para enfrentar o recrudescimento das queimadas, as maiores desde 2006, Wahba articulou novas frentes para ampliar as ações da brigada voluntária composta por ribeirinhos, pescadores, indígenas, fazendeiros, entre outros.

“A ideia de criar a Brigada Alto Pantanal foi minha, mas o personagem central para a sua construção foi o Coronel Ângelo Rabelo, do Instituto Homem Pantaneiro. Empregamos ribeirinhos com experiência no combate ao fogo e que estavam sem trabalho em meio à pandemia. A brigada continua ativa e a gente tem muito orgulho porque, dois anos depois, esses ribeirinhos estão treinados, uniformizados e capacitados, com salário e carteira assinada. Quando tem incêndio eles fazem o combate; quando não tem, visitam comunidades, ajudam no manejo das roças e dão orientações sobre o uso do fogo”, orgulha-se.

A criação da Brigada Alto Pantanal, que protege uma área específica, a Serra do Amolar, contou com o apoio de primeira hora de empresários e de personalidades como Luciano Huck e Gisele Bundchen, que impulsionou doações de aporte financeiro e inspirou ações de outras instituições do terceiro setor, como a ONG SOS Pantanal, resultando na criação de 26 brigadas. Os estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul também destinaram verbas para o combate aos incêndios.

Em paralelo ao serviço voluntário que realizava, de câmeras em punho e contando com a ajuda de outros cinco cinegrafistas – Thamys Trindade, Diego Rinaldi, Mike Bueno, Ernane Junior e Cesar Leite – para dar conta da dimensão das queimadas, Wahba era também tomado pela amarga consciência de que o filme que planejava fazer no começo de 2020, baseado em uma série de registros sobre a exuberante beleza do Pantanal, ganhava agora o caráter de um testemunho de horror. Concluído em 2021, Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas, o impactante documentário que resultou dessa aflitiva missão, foi exibido pela primeira vez na grade do Globoplay em 12 de novembro, o Dia do Pantanal. O filme, que foi coproduzido pela Wahba Filmes e Jefferson Pedace, segue disponível, com exclusividade, na plataforma de streaming da Rede Globo.

Jaguaretê-Avá não é uma experiência fácil. E faço um destaque especial ao Marco Del Fiol e à Tatiana Lohmann, diretores de documentários mundialmente reconhecidos e premiados, que foram os montadores. Por causa deles, digo que o filme tem praticamente três diretores. Por duas semanas depois da estreia, o documentário foi o mais visto no Globoplay. Recentemente, quando algumas imagens dos incêndios foram usadas na novela Pantanal, voltou a subir o número de pessoas querendo assistir ao filme”, comenta o diretor, às vésperas de vivenciar um momento de celebração aos seus 30 anos de apaixonada dedicação à causa ambiental.

 

Exposição internacional

 

Em 14 de outubro, Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas enfim chega ao público internacional, quando será exibido em Bristol, na Inglaterra, na programação do Wildscreen Festival, a mais importante mostra de filmes documentais sobre natureza e meio ambiente. Com o impacto da exibição para o júri que selecionou os títulos que compõem essa edição especial da mostra britânica, que celebra 40 anos, Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas foi condecorado com uma premiação que enaltece seu forte teor de denúncia: o Mérito de Sustentabilidade.

“Ainda estou em estado de choque. Em 1996, eu tinha 27 anos, era um jovem documentarista em começo de carreira e fui ao Wildscreen. Vi vários filmes na tela grande, e pensei: ‘Um dia vou ter um filme meu exibido aqui’. O Wildscreen é o maior festival de documentários de natureza do mundo. Os filmes são normalmente grandes produções da Disney, da Netflix, da National Geographic, da BBC, da Discovery, da Amazon Prime. Produções de milhões de dólares, que concorrem ao prêmio principal, o Panda de Ouro, conhecido como o ‘Oscar Verde’. Sempre achei que a linguagem do Jaguaretê-Avá não casava com o perfil da mostra. Sinceramente eu não imaginava um prêmio desses. Ao mesmo tempo em que essa é a realização de um sonho, é também a lembrança de um pesadelo, porque eu gostaria mesmo é de ver um filme meu com as belezas do Pantanal na tela grande do festival, e não saber que 15 milhões de animais morreram. Esse é o filme que eu não gostaria de ter feito. Perto do que significaram os incêndios, esse prêmio não vale nada”, lamenta.

Divulgado em 22 de setembro – juntamente com a programação do evento e a confirmação da participação de convidados como os cineastas James Cameron, Darren Aronofsky e a ex-secretária-executiva da Convenção do Clima da ONU, Christiana Figueres – o simples anúncio da premiação especial de Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas no Wildscreen Festival tem chancelado a relevância do filme, trazendo efeitos positivos para uma promissora carreira internacional do documentário.

“Acabo de dar entrevista para um jornalista da BBC, e o que ele falou do filme me deixou meio tonto. Foi só elogios. Outros festivais de cinema do mundo e distribuidores internacionais estão me procurando. Minha expectativa é que esse prêmio possa ser uma alavanca para a gente espalhar a mensagem do filme. E vale dizer que uma grande porcentagem do que a gente arrecadar com a venda internacional do filme será doada. Quanto mais a mensagem se espalhar, mais a gente conseguirá manter as brigadas e os centros veterinários no Pantanal”, defende.

Espécie de aquecimento para o Wildscreen Festival, no último dia 26 de setembro Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas foi exibido em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, na abertura da mostra de cinema do Festival Green Nation.

“As exibições que a gente fez no Green Nation foram de total catarse. O público inteiro chorando, as pessoas me abraçando no fim do filme. Estou agora na expectativa de ver como a audiência internacional vai reagir”, conclui Wahba.

 

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