Portugal é “campeão europeu” dos incêndios

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Fonte: Mundo Lusíada

Portugal é “o campeão europeu” dos incêndios, onde todos os anos arde mais de 3% da floresta, uma situação que se deve ao abandono rural, cessação de atividades agrícolas tradicionais e ausência de políticas, segundo o relatório “Um Planeta em Chamas”, lançado hoje no país europeu pela ANP/WWF (Associação Natureza Portugal/Fundo Mundial para a Natureza).

“Portugal é o país europeu mais castigado pelos incêndios. Nos últimos 30 anos é o que mais sinistros enfrentou e aquele em que mais hectares foram queimados”, lê-se no documento, dando conta que, em média, ocorrem no país, por ano, cerca de 17 mil ocorrências, 35% a mais do que na Espanha, outro país contabilizado pelo estudo.

O relatório da WWF sobre os incêndios florestais na Península Ibérica frisa também que são queimados cerca de 120 mil hectares em média por ano em Portugal, mais 20% do que na Espanha, apesar de ter menos 80% de superfície florestal.

Incêndio matou 62 pessoas e deixou 59 feridos, na região central de Portugal, em 2017. Foto: Rafael Marchante/Reuters

“Este valor significa que todos os anos Portugal vê arder mais de 3% da sua superfície florestal, em comparação com 0,4% em Espanha. Portugal é o primeiro país da Europa e o quarto do mundo que perdeu a maior massa florestal desde o início do século XXI, em grande parte devido aos incêndios florestais que assolam o país todos os verões”, precisa o documento.

A WWF sustenta que “ano após ano, a área ardida não para de crescer” em Portugal, justificando esta situação com “um sem fim de fatores, desde o abandono rural, cessação de atividades agrícolas tradicionais, à ausência de políticas sérias de gestão do território e gestão florestal responsável”.

O relatório frisa que Espanha e Portugal “são e serão países de incêndios extremos que muito provavelmente viverão cenários muito perigosos de intensidade semelhante”.

A WWF refere que, nos últimos anos, centenas de pessoas perderam a vida em incêndios em países como Portugal, Grécia, Itália e Espanha, mas que dificilmente chegarão a ter a extensão e duração dos da Austrália.

No entanto, sublinha que, se continuarmos com esta dinâmica, os incêndios, em especial os que afetam a área de interface urbano rural, vão colocar “cada vez mais em sério risco a vida das pessoas”.

Segundo a WWF, os incêndios já não representam apenas danos ao patrimônio ambiental e rural, sendo também “um grave risco para a vida das pessoas e um lastro para os cofres públicos” ao deixar milhares de desalojados e danos materiais não quantificáveis.

A associação considera que o Governo português deve colocar em marcha o Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais.

O relatório “Um Planeta em Chamas” destaca que, a nível global, a problemática dos grandes incêndios está “intrinsecamente ligada com as alterações climáticas” e evidencia o desequilíbrio existente entre medidas de prevenção e de extinção e como estas “sistematicamente se revelam insuficientes para resolver este problema ambiental”.

O mesmo documento reforça igualmente que para combater os grandes incêndios é essencial apostar na prevenção, valorização das áreas rurais, tornando as paisagens mais resilientes e na mudança de comportamentos da população em geral.

“2019 fica marcado na história do planeta como o ano dos incêndios, e se as causas diferem de país para país, as condições perfeitas para este tipo de fenômeno são consequência de uma crise comum: as alterações climáticas. Os últimos 20 anos foram os mais quentes de que há registo, e se esta tendência se mantiver, os incêndios também se manterão”, concluiu o relatório, que faz ainda uma relação entre os fogos e a pandemia de covid-19.

“A pandemia covid-19 tem uma clara relação com a desflorestação e a perda de biodiversidade. Os incêndios, como principal ferramenta para a destruição de florestas, podem ser a receita perfeita para a propagação de agentes patogênicos. A proteção das florestas em todo o mundo é a vacina mais eficaz e sustentável”, precisa.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 477 mil mortos, incluindo 1.543 em Portugal.

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