Com Plano de Manejo Integrado do Fogo (PMIF), a maior reserva particular do Brasil se prepara para seca histórica no Pantanal

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A maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil, a RPPN Sesc Pantanal, localizada em Barão de Melgaço (MT), é referência quando o assunto é prevenção aos incêndios no Pantanal, desde sua criação no fim da década de 1990. Nos últimos anos, a reserva tem ampliado as estratégias para enfrentar as mudanças acentuadas no clima e a principal ação prevista para 2024 é a queima prescrita, que utiliza o fogo como aliado para proteger a área de 108 mil hectares e faz parte do Plano de Manejo Integrado do Fogo (PMIF).

Iniciativa inédita em unidades de conservação do Pantanal Norte (Mato Grosso), o modelo prevê a queima de algumas áreas na RPPN, em vegetação mais adaptada ao fogo, o que contribui para a conservação do local. A estratégia, utilizada em várias partes do mundo e em outros biomas brasileiros, é uma das mais avançadas opções de prevenção, considerando as mudanças nos ciclos das águas registradas desde 2020, quando o Pantanal teve o pior incêndio da sua história, com cerca de 4 milhões de hectares impactados pelos incêndios.

 

Importância do PMIF

 

O Pantanal tem apenas 5% do bioma protegido em Unidades de Conservação. Deste total, 1% corresponde à RPPN Sesc Pantanal, que faz parte do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, iniciativa do Sistema CNC-Sesc-Senac.

Conservar essa área e protegê-la dos incêndios florestais é um grande desafio, o que só é possível se for feito coletivamente, segundo a gerente-geral do Polo Socioambiental Sesc Pantanal e bióloga, Cristina Cuiabália. “O PMIF reforça a importância da integração de todas as atividades relacionadas à prevenção e combate aos incêndios florestais na Reserva e no entorno, modelo com o qual o Sesc Pantanal tem trabalhado há quase três décadas. A construção colaborativa é a abordagem principal no planejamento, ou seja, é feita com as comunidades tradicionais, indígenas, fazendeiros, pesquisadores, levando-se em conta a ecologia, a cultura o manejo do fogo no Pantanal e o cenário atual das mudanças no clima, que requer uma análise múltipla e integrada”, destaca Cuiabália.

Com as mudanças climáticas, que têm feito o Pantanal vivenciar períodos cada vez mais intensos de seca, continua Cuiabália, a experiência do Sesc Pantanal tornou-se uma importante referência para outras áreas no bioma. “Ao longo de todos esses anos, a RPPN Sesc Pantanal realiza ações de Manejo Integrado do Fogo, como a formação de brigadistas, ações de educação ambiental com o entorno da Reserva e de prevenção, como a criação de aceiros. A novidade deste ano será a queima prescrita, já realizada em pesquisa de 2021. A expectativa é muito positiva, considerando os resultados dessa estratégia em outros biomas, conduzidos pelo Instituo Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)”, ressalta.

 

Prevenção a incêndios

 

Como ferramentas de prevenção, a RPPN também conta com a tecnologia de detecção de focos de incêndio com câmeras de alta precisão. As imagens captadas são acompanhadas em um Centro de Monitoramento onde passam por rapidamente por análise com uso de algoritmos de inteligência artificial. A partir daí, são transmitidas para a Brigada de Incêndio do Sesc Pantanal e o Corpo de Bombeiros para iniciar prontamente o combate às chamas. A tecnologia já se mostrou eficaz na temporada de seca de 2023.

Já a Brigada de Incêndio, contratada para atuação durante seis meses no período da seca, agora permanecerá ativa por oito meses e terá um reforço importante: dois novos pontos de água na área central da Reserva, naturalmente mais seca por estar distante dos rios Cuiabá e São Lourenço, que margeiam na RPPN. Os poços artesianos foram construídos durante o projeto “RPPN Sesc Pantanal – Recuperando e Protegendo”, realizado em parceria com a Funatura, por meio do projeto GEF-Terrestre, do Governo Federal. Os poços contribuirão com os esforços de eventual combate a incêndios florestais, facilitando o rápido reabastecimento de caminhões pipa.

 

Seca histórica no Pantanal

 

Muitas das áreas normalmente inundadas durante a época das cheias do Pantanal, neste ano se mantiveram secas, configurando um dos períodos de pior estiagem da história do bioma. Este cenário levou a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) a aprovar, no mês de maio, a Declaração de Situação Crítica de Escassez Quantitativa dos Recursos Hídricos na Região Hidrográfica do Paraguai, com vigência até 31 de outubro deste ano, fim do período seco normal na bacia do Paraguai, a principal do Pantanal. A Declaração poderá ser prorrogada caso a situação de escassez hídrica persista.

A decisão foi tomada devido ao cenário observado na Região Hidrográfica do Paraguai, embasado por manifestações de entidades especializadas, como o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e o Serviço Geológico do Brasil (SGB), em função da escassez hídrica relevante se comparada com períodos anteriores. Isso porque o nível d’água do rio Paraguai atingiu, em abril deste ano, o pior valor histórico observado em algumas estações de monitoramento ao longo de sua calha principal. O cenário de escassez ocorre desde o início deste ano na Região Hidrográfica do Paraguai.

Foto: Gabriela Sant’Ana

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