Um a cada três focos de queimada na Amazônia esteve relacionado com desmatamento
Fonte: G1
Entre janeiro e agosto de 2019, um terço dos focos de queimadas registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi identificado em áreas que até julho de 2018 eram floresta. Um levantamento divulgado pela ONG WWF-Brasil comparou o número atual de incêndios com as áreas desmatadas.
A organização constatou que em oito meses do ano passado, a área total com alertas de desmatamento foi de 6 mil km², valor 62% maior do que o observado para o mesmo período em 2018. Já o número de focos de queimadas na Amazônia, entre janeiro e agosto de 2019, cresceu mais de 110%, na comparação com o mesmo período de 2018.
O diretor-executivo da WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, defendeu por meio de nota que as queimadas na região de floresta não são naturais e pediu uma ação conjunta do governo, do setor privado e da sociedade para a proteção deste bioma.
Ao todo, foram registrados 46.825 pontos, valor 64% maior que a média dos últimos dez anos para os mesmos oito meses, defendeu a organização.
Fogo em áreas protegidas
A WWF-Brasil denunciou uma tendência de elevação nas áreas com alertas de desmatamento dentro de áreas protegidas nos últimos três anos: 11% em 2017, 13% em 2018 e 17% em 2019. Dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) mostraram que 20% dos focos de queimadas registrados até agosto deste ano ocorreram dentro de áreas protegidas.
As queimadas na Amazônia têm relação direta com o desmatamento. Especialistas comentaram que o fogo é parte da estratégia de “limpeza” do solo que foi desmatado para posteriormente ser usado na pecuária ou no plantio. É o chamado “ciclo de desmatamento da Amazônia”.
O biólogo e cientista norte-americano Philip Fearnside explicou que é comum produzir queimadas em áreas desmatadas.
“É uma maneira viável de se livrar de todo o mato. A queimada também ajuda a preparar o solo para a plantação. Serve para diminuir a acidez do solo, um problema na Amazônia, e deposita nutrientes.”
O “ciclo de desmatamento” tem como base a tentativa de ocupação desregrada de terras da União, inclusive em áreas protegidas, como verificou o Desafio Natureza no Pará. “Ocupa-se a área pública, e é feito o desmatamento como forma para valorizar a terra e vender”, explicou Tasso Azevedo, coordenador-técnico do Observatório do Clima.
Mais chuvas, fogos e desmate
De acordo com um levantamento exclusivo feito pelo G1, a Amazônia teve mais chuvas, mais queimadas e mais alertas de desmatamento entre janeiro e agosto em 2019 do que o registrado no bioma nos mesmos períodos desde 2016.
Os números vão contra declarações dadas pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Após a alta das queimadas afetar a rotina de São Paulo e virar pauta do G7, Bolsonaro chegou a relacionar as queimadas na Amazônia à estação durante um pronunciamento em rede nacional no dia 23 de agosto.