O incêndio e suas consequências para o meio ambiente
Quais são os prejuízos quando ocorre uma combustão não controlada – Por Débora Luz / foto Osíris Bernardino
De acordo com o site da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), dados publicados no site da International POPs Elimination Network – IPEN, obtidos pela aplicação do Toolkit, a principal fonte de emissão de dioxinas no mundo seria proveniente da combustão não controlada (29%), seguida da incineração (17%), aterros e incêndios (12%) e siderurgia/metalurgia (11%). As principais críticas a esses inventários, estão associadas com a estimativa de emissão de algumas fontes cujas avaliações são extremamente complexas e variáveis e que por esta razão podem estar sendo super ou subestimados. Para falar sobre a combustão não controlada, a revista Incêndio entrevistou para esta edição o engenheiro civil Milton Norio Sogabe, que também é engenheiro de segurança do trabalho, mestre em Poluição do Ar pela University of Washington (Seatlle, WA, EUA). Ele foi representante estadual no CONAMA, tendo participado da preparação de várias resoluções (264 – Coprocessamento de Resíduos, 316 – Tratamento Térmico de Resíduos, 282 – Limites de Emissão). Está na Cetesb desde 1977, tendo servido como assistente técnico da Secretaria de Meio Ambiente por três anos e atualmente é gerente do setor de Projetos Especiais da Diretoria de Controle e Licenciamento Ambiental.
Descreva sua atual função na Cetesb.
Eu trabalho com o produto de combustão, porém dentro de um processo controlado, como um forno ou caldeira. A minha área é voltada a projetos especiais. Já trabalhei com poluição do ar e atualmente estou focado em um grande projeto de um banco de dados de informações ambientais para o licenciamento, um inventário de fontes. Primeiramente estamos começando nos 39 municípios da Grande São Paulo, e toda as fontes estarão georeferenciadas, bem como haverá análises de emissões. Final de abril ou maio sai a licitação para o projeto. Minha área na Cetesb também tem participação na parte de tratamento térmico, onde pude colocar em prática um pouco da minha especialidade com combustão, pois comecei trabalhando com incineração com processamento com formes de cimento e gaseificação.
O que ocorre quando uma combustão fica fora de controle?
Os princípios da combustão é algo semelhante ao controlado, porém a única diferença é que há atores participando nessa ação que às vezes não são inteiramente conhecidos e a sua combustão não é feita de forma adequada. O processo de combustão seria o combustível misturando-se com o oxigênio do ar. O ar tem uma certa quantidade de oxigênio que fornece e, às vezes, como a disponibilidade de combustível às vezes é muito grande, o oxigênio do ar não é suficiente para essa queima se realizar de uma maneira adequada.
E o que acontece?
Com isso, começa a ter certos produtos de combustão que são os “complicados”. Quando você tem uma substância clorada, por exemplo, dentro de um processo de combustão não controlado você pode ter uma série de chamados “filhotes” de reação que podem ser extremamente nocivos à saúde (deletério à saúde). Ou mesmo quando tem combustível ou óleo que vai queimando de uma forma não adequada, pode ter os que são chamados “produtos de combustão incompleta”, ou seja, a reação não vai até o fim e gera monóxido de carbono. Tem uma série de gases que podem ser nocivos à saúde e ao meio ambiente. Eu atuo mais com as condições controladas, mas os princípios são mais ou menos próximos. Porque mesmo quando se queima um resíduo perigoso líquido dentro de um incinerador, por exemplo, e este não for adequadamente projetado, ele pode ter áreas que com condições muito próximas de uma queima não controlada. Antigamente, não construíam incineradores com sessão quadrada, no canto do incinerador há uma zona pobre de oxigênio e nela se formava uma condição de combustão incompleta, ou seja, uma série dos chamados PICs (Products of Incomplete Combustion), que nada mais é que um produto que não foi projetado para uma situação de queima completa. A queima completa é sempre o “melhor dos mundos” em termos de poluição e de recuperação de energia, pois toda vez que se queima um óleo, por exemplo, há um poder calorífico dentro dele. Então a ideia é, se consome, há a maior quantidade de calor na menor quantidade de combustível. É como o seu carro fazendo 25km com um litro; se você conseguir extrair tudo com a melhor eficiência possível, ocorre uma situação de melhor condição de combustão.
Leia a entrevista na íntegra em Incêndio – edição 129