Incêndios assustam exportadores de açúcar
O primeiro grande incêndio a atingir o setor ocorreu em outubro de 2013, quando o Terminal Açucareiro da Copersucar, localizado no Porto de Santos, pegou fogo queimando 180 mil toneladas de açúcar bruto e deixando quatro pessoas feridas. O maior incêndio da história do Porto de Santos foi tão grave que chegou a provocar o aumento da commodity no mercado internacional.
A catástrofe foi seguida posteriormente de incêndios nos terminais de açúcar da Rumo Logística, em Santos, da Cargil, no Guarujá, e da Agrovia, em Santa Adélia. Todos resultando em enormes prejuízos.
“Após todos esses acidentes percebemos a necessidade de criar um Grupo de Trabalho sobre silos de açúcar dentro da Comissão de estudos do CB 24, que está revisando a Norma ABNT de Sistemas de combate a incêndio por espuma, com o objetivo de fazer alguns ensaios, a fim de descobrir qual o tipo de agente extintor é o mais eficiente para apagar incêndio em açúcar seco a granel, se água, se espuma para incêndio classe A, ou se espuma para incêndio classe B”, revela Paulo Chaves, Coronel da Reserva do Corpo de Bombeiros de São Paulo.
O Grupo de Trabalho reuniu profissionais de áreas multidisciplinares e aprovou várias sugestões para melhorar a proteção contra incêndio em silos horizontais de açúcar seco a granel.
O problema levou a Companhia Docas de São Paulo (Codesp), responsável pela administração do Porto de Santos, a realizar o seminário “Prevenção e combate a incêndios em terminais de movimentação de açúcar a granel”, que reuniu mais de cem pessoas e contou com a presença de especialistas do setor, inclusive o Cel. Chaves.
Granulação pode ser o problema
Durante o evento, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Etanol (Única) apresentou dados que podem mostrar porque houve um aumento tão acentuado de incêndios. Segundo a instituição, o açúcar produzido atualmente está mais fino e, consequentemente, mais seco. Esta condição gera mais partículas e traz mais riscos de fogo. De acordo com a Única, uma granulometria deverá ser estabelecida a fim de haver uma estocagem e um manuseio mais seguro.
Outra alternativa seria aumentar a umidade do açúcar estocado, pois o produto muito seco contribui de maneira elevada na propagação do incêndio. O ideal é que o açúcar possua entre 0,10% e 0,15% de umidade, para não levantar pó durante as operações de carga e descarga.
Durante as reuniões do Grupo de Trabalho, os representantes de algumas usinas demonstraram que além de modificar a umidade, também estão empenhadas em alterar outras especificações do açúcar, tais como coeficiente de variação e abertura de malha do açúcar, para se adequar as novas políticas de qualidade das empresas de logística que operam nos portos, por acreditarem ser esta uma providência que contribui para reduzir a geração de pó e que pode ser conseguida, fazendo-se ajustes no processo de fabricação de açúcar, ainda que as mudanças exijam tempo e investimentos.
“O Brasil precisa de uma legislação específica para autorizar um órgão do governo federal ou estadual a fazer investigação dos grandes incêndios, com o foco em descobrir o que iniciou o incêndio e propor medidas para evitar que outros aconteçam, algo semelhante ao que faz a Força Aérea Brasileira, toda vez que cai uma aeronave”, diz o Cel. Chaves, que também é Diretor Voluntário do CB 24 ABNT e colaborador do Projeto Brasil sem Chamas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Medidas de segurança
Enquanto a legislação não é modificada, o Grupo de Trabalho criado pelo Cel. Chaves reuniu voluntariamente profissionais de diversas áreas e aprovou várias sugestões para melhorar a proteção contra incêndio em silos horizontais de açúcar seco a granel. O resultado desse trabalho será encaminhado ao Comandante do Corpo de Bombeiros de São Paulo, contendo os procedimentos e medidas de proteção que consideram mais apropriadas para evitar o surgimento de incêndio nesses estabelecimentos.
Veja abaixo as principais sugestões:
→ O projeto do silo deve prever um local para receber os resíduos de incêndio ou prever quais procedimentos serão adotados para conter os resíduos no local, devendo tais procedimentos constarem no Plano de emergência contra incêndio da planta;
→ Deve haver isolamento entre silos e entre as correias transportadoras, ou barreira corta fogo, tipo cortina têxtil, ou tipo cortina de água, de acionamento automático, por meio de detector de incêndio;
→ Deve haver sistema de chuveiros automáticos nas correias transportadoras e elevador de caneca, ou sistema de dilúvio, de acionamento automático, por meio de detector de incêndio;
→ As correias transportadoras e as canecas dos elevadores de caneca devem ser não propagadoras de chamas e de energia estática;
→ Deve haver um sistema de acionamento manual de emergência, destinado a desligar a correia transportadora, em caso de incêndio;
→ Deve haver canhões monitores, auto-oscilatórios, instalados na área interna do silo de acionamento automático, por meio de detector de incêndio ou um sistema de combate a incêndio por hidrante duplo, sendo de um lado, mangueira com esguicho regulável e do outro lado mangotinho, diâmetro de 25 mm, operado por pessoas devidamente treinadas e equipadas com IPI e EPRA de combate a incêndio, em conformidade com as Normas ABNT, NFPA ou EN, com procedimentos estabelecidos no Plano de emergência contra incêndio da planta;
→ Para os silos de açúcar empacotados (“in bags”) propõe implantar uma das duas medidas acima em substituição ao previsto na Divisão J-4, Tabela 6J.2, do Decreto Estadual nº 56.819/2011;
→ As instalações elétricas devem ser conforme Norma NBR IEC 60079 – Equipamentos elétricos para atmosferas explosivas e a NBR 5410 – Instalações elétricas de baixa tensão;
→ Os rolamentos do sistema de acionamento das correias transportadoras devem possuir sistema de monitoramento para detectar a geração de atrito, calor e incêndio;
→ As saídas de emergência na passarela e galerias subterrâneas devem ser distribuídas de forma que uma pessoa não tenha que caminhar mais de 120 metros para encontrar uma saída.
As sugestões não se aplicam aos silos horizontais que usam sistema de transporte de açúcar seco a granel e produtos similares, utilizando ar comprimido.
Além da adoção das medidas acima, o Grupo de Trabalho sugere investigar os incêndios a fim de descobrir por que o incidente ocorreu, por que não foi controlado e, principalmente, verificar quais das medidas propostas foram as mais apropriadas.
Explosões preocupam
As sugestões serão enviadas ao Corpo de Bombeiros de São Paulo para que sejam implementadas na construção de novos silos. Mas, para Flávio Cavalcante, gerente da Fike, empresa especializada em soluções para prevenção de acidentes e proteção de pessoas e ativos, as medidas de prevenção de incêndios tem que levar em consideração também os riscos de explosões.
“Os silos de açúcar estão expostos a um alto risco de explosões que podem ser a fonte de ignição de um incêndio de grandes proporções”, diz Cavalcante. O especialista em prevenção de explosões diz que o Corpo de Bombeiros deve obrigar os silos de açúcar seco a granel a adotarem a IT 27 – Instrução Técnica que normatiza sobre o risco de explosões em armazéns que manipulam pós e poeiras combustíveis.
Para que haja a explosão de pó é necessária a sua presença na faixa de concentração, em ambiente confinado e a presença de uma fonte de ignição. O grau do risco de deflagração varia dependendo do tipo de pó combustível e dos métodos de processamento utilizados. Também pode se afirmar que, quanto menor for à partícula sólida, maior é o risco de ocorrer uma deflagração.
“Analisando-se todos esses fatores, percebe-se que os silos de açúcar seco a granel são instalações que estão expostos a um alto risco de explosões”, afirma o gerente da Fike.
Atualmente, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) possui uma Comissão Especial de Estudo (CEE 80), da qual Cavalcante faz parte, para adaptar normas internacionais e desenvolver normas nacionais para a criação de sistemas de prevenção de explosões. O grupo reúne especialistas de Universidades, Centros de Pesquisas, Corpo de Bombeiros, Fabricantes de Equipamentos de proteção e segurança e engenheiros de empresas de projeto responsáveis pelo desenvolvimento, manutenção e segurança de plantas fabris.
Investimentos na Pasa
Atenta ao problema, a exportadora Pasa Paraná Operações Portuárias de Paranaguá implantou recentemente em seu novo terminal no Porto de Paranaguá (PR) duas soluções da Fike para proteção de sua planta contra explosões.
Nos elevadores de caneca desse terminal foram utilizados sistemas de supressão de explosões. Já nos filtros coletores de pós foram implantados sistemas de isolamento químicos e sistemas de alívio de explosão. “Esta aplicação pode ser utilizada quando o equipamento a ser protegido estiver em local aberto ou próximo de uma parede externa e quando a descarga da explosão pode ser canalizada para um local aberto”, explica o gerente da Fike.
“Outra alternativa para aumentar a segurança dos terminais de estocagem de açúcar é a instalação de um cabo detector linear de temperatura, uma solução eficiente e de baixo custo que pode ser rapidamente implantada e aumentar consideravelmente a segurança desses armazéns”, explica Orlando Mattos Júnior, executivo de vendas da Fike.
O cabo detector linear de temperatura pode ser ligado diretamente ao painel convencional ou ao módulo endereçável do sistema de detecção e alarme de incêndio. Também é possível identificar através do módulo localizador de distância, o ponto exato onde houve elevação de temperatura, indicando que ali poderá ocorrer fogo.
Neste momento, o painel do sistema de detecção e alarme de incêndio recebe a informação do cabo linear e toma as ações conforme programação prévia, podendo acionar os sinalizadores áudio-visuais, alertar as equipes de brigada de incêndio, comandar intertravamentos com o equipamento protegido e ativar o sistema automático de combate de incêndio. Entre as vantagens deste método pode-se destacar o fato da detecção ocorrer em seu estágio incipiente.
“Existem dezenas de soluções para a proteção contra explosões. Os profissionais da área de projeto, segurança e manutenção industrial precisam conhecer melhor o problema e buscar a alternativa mais adequada ao seu caso antes que algum acidente grave aconteça sob seus olhos”, avalia Cavalcante.