Incêndio em alojamento do Flamengo partiu de curto-circuito em ar-condicionado
Fonte: O Globo
Uma análise preliminar da perícia da Polícia Civil constatou que o fogo no alojamento da divisão de base do Flamengo, no Ninho do Urubu, teve início a partir de um curto-circuito no ar-condicionado do alojamento seis. Segundo uma fonte, ainda está sendo avaliado o tipo de material utilizado para revestir o contêiner, no caso, a espuma que fica entre as chapas de aço da estrutura, o que irá explicar o motivo de as chamas terem se propagado tão rapidamente na construção, ocasionando a morte de dez atletas.
A hipótese mais provável, segundo o engenheiro civil e ex-conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Antonio Eulalio Pedrosa Araújo, é a de que os aparelhos estavam ligados em série e, aparentemente, sem um disjuntor para cada unidade que desligasse quando houvesse sobrecarga.
“Cada aparelho de ar-condicionado precisa ter um fio de acordo com a sua potência (amperagem) e um disjuntor. O que me parece é que o fio esquentou e pegou fogo. Como os aparelhos estavam em série, as chamas se propagaram. Se houvesse um disjuntor no ar-condicionado onde tudo começou, ele teria desarmado e cortado o fornecimento de energia, evitando, assim, a sobrecarga e a queima do aparelho”, explicou Araújo, que completa: “o custo de uma instalação elétrica adequada seria irrisório em relação aos altos investimentos que o clube fez em seu centro de treinamento”.
O revestimento, na opinião do especialista, pode ter contribuído para a propagação das chamas. “Uma soma de fatores contribuíram para essa tragédia. A fumaça preta que se vê nas imagens pode ser um indício da queima de material tóxico. É costume, para abafar o barulho da chuva, usar uma manta de isolante térmico no telhado que contém este tipo de substância. Ainda há as paredes do revestimento que precisam ser analisadas. Os jovens, ao que tudo indica, morreram pela fumaça tóxica e depois tiveram seus corpos carbonizados. Não houve gritos, pedidos de socorro”, comenta. “Contêiner é provisório. Nem deveria ser usado como local de dormitório”, enfatiza.
Em nota, a empresa NHJ do Brasil garantiu que o módulo era formado por chapa de aço galvanizado com miolo em poliuretano, sendo preenchido com material antichamas. No entanto, as labaredas chamam atenção dos especialistas. O diretor do Departamento de Incêndio da Sociedade Brasileira de Engenharia Segurança, Wesley Pinheiro, disse que existem produtos retardantes para poliuretano mas que, pelas imagens, isso não houve no contêiner do centro de treinamento do Flamengo.
“Está na cara, pelas imagens, que não tinha, porque abriu chama. Um produto aplicado com tratamento antichama, não abre chama. O poliuretano não é o material ideal porque é feito de lã de pet (reciclam garrafa pet e criam uma lã acústica para revestimento). Pet tem alta combustão. Os materiais ideais são a lã de rocha ou a lã de vidro (esta última a mais indicada). Ambas são mais resistentes ao calor”, argumenta Pinheiro, que também ressalta a ausência de disjuntores para cada aparelho de ar-condicionado.
Os especialistas também ressaltaram a falta de rotas de fuga e equipamentos de segurança contra incêndio. “Como é que pode haver apenas uma porta! Deveria existir uma saída nos fundos. Além disso, janelas com grades, ausência de uma brigada de incêndio. São muitos erros num local só”, alerta Araújo.
Pinheiro endossa as palavras do colega: “Esse é um ponto que a segurança patrimonial esbarra com a segurança de incêndio. Certamente, as grades na janela são para evitar roubo. Assim como terem pensado em uma porta só foi pensando na segurança patrimonial e não na contra incêndio. O ideal é não ter grades, ainda mais onde tem várias pessoas dormindo”.