Brigadistas organizam a Rede Nacional de Brigadas Voluntárias
Em 2019, líderes de brigadas contra incêndios florestais de diversos estados brasileiros constituíram uma diretoria do embrião da Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV). O objetivo é buscar soluções para problemas comuns enfrentadas por essas Organizações Não Governamentais (ONGs) para manter uma estrutura mínima e garantir a formação de brigadistas, aquisição e manutenção de equipamentos para o combate ao fogo.
A ameaça à continuidade das brigadas voluntárias é a principal preocupação da RNBV. De acordo com Consultor em Gestão Ambiental Inteligente, Rafael Gava, que preside a diretoria provisória da ONG, principal obstáculo para a ação permanente destes grupos é o custo de manutenção. “Em função da falta de recursos, as brigadas voluntárias sofrem com a inexistência de padronização de equipamentos e materiais, dificuldades para aquisição e manutenção de equipamentos, ferramentas, EPIs corretos, falta de transporte e deslocamento (até o pedágio rodoviário é pago pelos voluntários) para os combates e ações afins e a dificuldade em proporcionar algum tipo de seguro ou assistência médica em caso de acidente envolvendo os voluntários”.
Gavas garante que muitas organizações mantêm-se com recursos dos próprios brigadistas e doações inconstantes da comunidade. “Algumas ocasionalmente recebem apoio de instituições públicas, mas raramente são apoiadas por administrações municipais”, lamenta. A consequência é a carência de equipamentos de proteção, uniformes e equipamentos adequados. “Muitos equipamentos de combate são desenvolvidos e construídos pelos próprios brigadistas”, garante.
Desafios comuns
São muitos os desafios da RNBV, segundo o consultor. “Precisamos facilitar processos, começando por possibilitar a criação de brigadas onde for necessário, onde tiver organizações informais e pessoas interessadas em organizar grupos coesos”, afirma. “As brigadas são organizações privadas, sem fins lucrativos, e precisamos ajudá-las na aquisição de equipamentos. Temos vários detalhes a serem enfrentados, principalmente a questão do seguro de vida para os voluntários. Isso é fundamental, pois não é justo que alguém que dedica suas horas de folga combatendo incêndios e colocando sua saúde em risco, ao invés de estar com a família, fique sem uma cobertura”.
O brigadista lembra que no início de 2019 procurou por seguro de vida para os brigadistas. “Descobri que as seguradoras não têm interesse em segurar esses voluntários, já que são muito menos especializados do que um bombeiro e, portanto, representam risco maior para essas empresas”.
História começou há 12 anos
A ideia de uma organização nasceu há 12 anos, quando Gava, que hoje lidera a criação da RNBV, auxiliou no combate a um incêndio subterrâneo no Pico Garatuva, na serra Ibitiraquire, entre os municípios de Antonina e Campina Grande do Sul, no Paraná, sem ter formação ou treinamento. “Foi bastante difícil, por isso decidi, depois que o fogo foi controlado, procurar iniciativas de brigadas voluntárias no país para saber como deveria proceder para organizar um grupo preparado para combater incêndios florestais”, lembra.
Em 2008, Gava conheceu, pela Internet, Rodrigo Belo, da Brigada 1, de Minas Gerais. “Durante nossas conversas, ele sugeriu que realizássemos um encontro nacional das brigadas. E foi dessa ideia que surgiu a Rede Nacional de Brigadas Voluntárias”.
Em 2019 ele iniciou, juntamente com a FEPAM, a Brigada 1 (MG), a Rede Contra o Fogo da Chapada dos Veadeiros (GO), a Privac de Alto Cavalcanti, também da Chapada dos Veadeiros, a Brigada de Alter do Chão (PA) e a criação da Rede Nacional das Brigadas Voluntárias. “Hoje estamos na fase de formatação da entidade e da elaboração do estatuto. Temos a incumbência de criar um site, terminar o estatuto e fazer contatos com a instituições públicas para oficializar a ONG”.
Fazem parte da RNBV a Brigada FEPAM (PR), a Brigada 1 (MG), a Brivac (G), a Rede Contra o fogo (GO), a Brigada de Alter do Chão (PA), Brigada Carcará Ouro Branco (MG), Brigada Carcará Brumadinho (MG), Brigada Guará (MG), Grupamento Civil Ambiental – GCA (MG), Brigada Mata Escura (MG), CIFA Andaraí (BA), ACV – Vale do Capão (BA), Brigada João Monlevade (MG), Brigada Chico Taquara (MG), Brigada Simbiose – Atibaia (SP). Ainda existem seis brigadas aguardando formalização na Rede.