As grandes tragédias da década de 1970 resultaram em uma preocupação para a segurança contra incêndio em edifício. Os casos do Edifício Joelma, que pegou fogo em 1º de fevereiro de 1974, com saldo de 188 mortos e 345 feridos, e do Edifício Andraus, consumido pelas chamas em 24 de fevereiro de 1972, deixando 16 mortos e 300 feridos, levaram a uma preocupação sobre as melhorias nas condições de segurança contra incêndio em edificações de São Paulo e de todo o Brasil.
Foi nesta época que o IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo criou o Laboratório de Segurança ao Fogo e a Explosões – LSFEx que hoje, aos 42 anos de idade, é referência em todo o país tanto nas avaliações e ensaios de materiais e de instalações de proteção contra incêndio quanto na normatização, da regulamentação e da fiscalização. Nesse período o LSFEx também passou a atuar na investigação de grandes incêndios.
E durante todo esse tempo, Antonio Fernando Berto, hoje responsável pelo laboratório, atuou para o avanço dos trabalhos. “Fui contratado em 1976 para dar início, junto com a equipe do IPT, da organização do projeto”, lembra. Foram quase três anos de preparação para a inauguração do LSFEx, em fevereiro de 1979.
Nesse período, lembra Berto, não havia regulamentação para a instalação de sistemas de segurança contra incêndio em edifícios. “Até mesmo os bombeiros tinham a função de apagar o fogo. Eram chamados apenas quando já havia incêndio”, afirma.
Diante de um quadro de total inexistência de regras para evitar esses desastres e de equipamentos para garantir a evacuação segura de ocupantes das edificações em chamas, o LSFEx surge, segundo Berto, em apoio a iniciativas que começaram após do drama registrado em São Paulo. “O governo de São Paulo editou um decreto definindo os equipamentos de segurança ativa como regulamentação de saídas de emergência, a obrigatoriedade de portas corta-fogo. Foram medidas que deram origem à NBR 9077, que estabelece padrões de segurança contra incêndio em escadas de saída e emergência”, recorda.
Enquanto isso, recorda Berto, o LSFEx avançava nos ensaios de materiais e compartimentação dos edifícios, com vistas à segurança passiva das edificações.
Instruções técnicas e normas
Por estar envolvido nas análises de materiais e equipamentos de proteção contra incêndio, a equipe do LSFEx também se tornou referencia na elaboração de instruções técnicas do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo (CBMESP) e das normas brasileiras (NBR) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) relacionadas à segurança e prevenção contra incêndio. “Inclusive, por sete anos um dos técnicos do laboratório comandou o Comitê Brasileiro de Segurança Contra Incêndio – CB24 da ABNT”, recorda Berto.
A participação do laboratório nas discussões da ABNT foram fundamentais, segundo Berto, para que as normas tivessem ênfase à questão da normalização de segurança contra incêndio no Brasil e, em especial, à abordagem sobre o controle das características de reação ao fogo dos materiais de acabamento e de revestimento.
Mas o caminho para que todo esse trabalho fosse reconhecido e acatado pela sociedade não foi fácil. Berto lembra que o LSFEx não teve problemas com verbas e aceitação de projetos, contando sempre com apoio institucional. No entanto, a falta de uma cultura de prevenção contra incêndio fez com que houvesse resistência, principalmente no setor da construção civil. “Mas nos últimos tempos, principalmente após a criação do projeto Minha Casa Minha Vida, quando as exigências de segurança contra incêndio foram levadas a sério, e com o surgimento de instituições, como a Associação Brasileira de Proteção Passiva Contra Incêndio – ABPP, a situação começou a mudar”.