Engenheiro Carlos Cotta alerta sobre a importância na instalação de sistemas de pressurização em escadas de segurança

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A função primordial de uma escada nos edifícios é facilitar o acesso das pessoas, quando não usam o elevador. Mas ela é também a mais importante rota de fuga em casos de incêndio. Por isso, se o projeto não for adequado, assim como a instalação de equipamentos que ajudam a controlar a movimentação da fumaça, o risco da fumaça do incêndio adentrar na escada é enorme.

“A escada é como um fosso ou um duto verticalizado e pode concentrar um grande volume de fumaça. O sistema de pressurização de escada tem a função de evitar a entrada da fumaça no interior da mesma, garantindo-se a utilização desta rota de fuga vertical pelos ocupantes da edificação. Cerca de 80% das vítimas morrem em incêndio porque inalaram a fumaça”, diz Carlos Cotta, engenheiro civil e de Segurança do Trabalho. O engenheiro coordenou a elaboração da ABNT NBR 14880, que trata de sistemas de pressurização e controle de movimentação de fumaça em escadas de segurança, em vigor até hoje.

Para explicar a origem desta norma e sua importância em todos os projetos de segurança de escada, Cotta, que também é tenente-coronel da reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo e coordenador da Divisão Técnica de Engenharia de Incêndio do Instituto de Engenharia, relembra um fato relevante.  Na década de 1990, ele trabalhava no Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo e comandou uma operação de combate a incêndio, iniciado na cozinha de um edifício residencial. Chegando ao local, ficou surpreso ao ver as portas corta-fogo da escada de segurança abertas e a grande quantidade de fumaça que entrava pelas escadas. Nesta situação dramática, os moradores não conseguiam usar esta rota de fuga para sair do prédio em segurança.

“Descobri que as construções não somente deste edifício, mas de outros empreendimentos em São Paulo, as quais seguiam as orientações da ABNT NBR 9077 e que deveriam garantir que a fumaça de um incêndio não adentrasse nesta escada de segurança, estavam permitindo o inverso disso. Na prática, a escada à prova de fumaça com seus dois dutos – entrada de ar limpo e saída de fumaça – permitiam que a fumaça entrasse neste ambiente antecâmara, permanecendo no interior desta rota de fuga vertical”, explica Cotta.

O fato é que a fumaça do incêndio havia entrado pela antecâmara, sendo que perdeu força de ascensão, por estar longe da fonte de calor, e retornou para o interior da escada no pavimento imediatamente superior, inundando de fumaça todo o local. Desta forma, impossibilitava a descida das pessoas dos andares mais altos. Segundo apurado pelo engenheiro na época, os moradores deixaram abertas todas as portas corta-fogo da escada, para que a fumaça fosse diluída e lentamente removida pelo efeito do vento na parte superior da edificação.

A partir de tais constatações, Cotta foi investigar as causas que provocaram esse incêndio. Ele teve acesso ao relatório de testes do JICA (Japan International Cooperation Agency), que já havia comprovado a falência das escadas de segurança adotadas no Brasil.

Com apoio da ABRAVA (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento) e do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), o engenheiro e Tenente do Corpo de Bombeiros de São Paulo à época coordenou um grupo de estudo para elaborar a primeira Instrução Técnica do Corpo de Bombeiros (IT nº 10, atual IT nº 13), baseado na Norma Inglesa BS 5588, parte 4 (capítulo 4), em meados do ano de 1994.

Assim, nasceu a ABNT NBR 14880. “Apresentamos os novos textos da norma à Prefeitura de São Paulo para mostrar que não seria mais necessária a construção de uma escada adicional em edificações antigas, como era exigido pelo CONTRU – Departamento de Controle do Uso de Imóveis, sendo o mais adequado na melhoria das condições das escadas existentes através da pressurização. Com isso, foram eliminados diversos embates jurídicos pela exigência de uma segunda escada nestes prédios antigos e, ainda, apresentamos uma solução mais econômica e segura para as edificações”.

Após mais de 30 anos, Cotta ainda vê problemas críticos na segurança das escadas dos edifícios. Na avaliação do engenheiro existem quatro grandes fatores na segurança contra incêndio, para que tais problemas graves permaneçam: a falta de capacidade técnica dos profissionais; certificação de produtos; manutenção e instalação dos equipamentos; e a falta de pesquisa e estatísticas sobre os incêndios no Brasil.

“A esmagadora maioria dos profissionais no mercado não possuem a mínima condição técnica para analisar riscos, elaborar projetos legais simples, instalar sistemas de proteção contra incêndio, mesmo para a obtenção do mais simplório documento hoje no mercado que é o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), uma vez que basta seguir regras básicas contidas nas legislações estaduais”, afirma Cotta. O profissional ainda alerta que o AVCB não apaga incêndio e não garante segurança contra incêndio nas edificações em nenhum Estado da Federação.

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