A maior seca dos últimos 47 anos causou queimadas recordes na região do Pantanal, no Centro-Oeste do país, em julho. Foram registrados 1.684 focos de incêndio, o maior número para o mês desde o início das medições pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em 1998.
As queimadas – que se espalham em alta velocidade em razão do tempo seco e do vendo no Pantanal –acontecem em regiões de difícil acesso, o que dificulta o trabalho das equipes de combate às chamas.
Para ajudar na prevenção de incêndios, definir políticas de conservação e monitorar possíveis crimes ambientais, como queimadas e desmatamentos ilegais, é fundamental obter informações detalhadas sobre uma floresta. A missão, porém, é praticamente inviável, considerando as dificuldades de acesso a esses locais e o longo tempo necessário para conclui-la.
Como maneira de solucionar o problema, pesquisadores do campus de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, desenvolveram um drone que consegue sobrevoar sozinho áreas com alta densidade de árvores.
O equipamento possui um sensor a laser que dispara milhares de feixes de luz por segundo e, ao encontrar as árvores, consegue calcular a distância de cada tronco e galho – evitando colisões. Basta que o piloto delimite a área a ser sobrevoada. A partir daí, o drone consegue, sozinho, mapeá-la.
Testes realizados em uma floresta de pinheiros no Estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos, mostraram resultados positivos.
“Além de termos a possibilidade de fazer um inventário florestal em uma área de cobertura muito maior, com a atuação do drone esse processo se torna muito mais rápido, seguro e preciso”, diz Guilherme Nardari, um dos autores do trabalho.
O equipamento pode mapear uma floresta de 400 mil metros quadrados em apenas 30 minutos. Para efeito de comparação, se o mesmo trabalho fosse realizado por uma equipe de engenheiros florestais, por exemplo, esse tempo saltaria para 12 dias e meio – isso se fosse realiado durante 24 horas por dia.
Ao ser aplicada no Brasil, a tecnologia permitiria, de acordo com os pesquisadores, prevenir a expansão de queimadas, já que os drones poderiam avistá-las em tempo real.
“Se você usar os métodos tradicionais com satélite quando se dá conta já é tarde demais e o estrago já foi feito”, afirmou Steven Chen, da Universidade da Pensilvânia, à TV Globo.
Além disso, os mapas tridimensionais gerados pelos equipamentos ajudam a identificar áreas de risco e podem auxiliar as equipes no combate às chamas.
No caso dos desmatamentos ilegais, seria possível alertar autoridades ambientais caso alguma região apresente transformações suspeitas ao longo do tempo. “Esse tema é muito relevante, principalmente pelo atual cenário que vivemos, de total descaso com a Amazônia”, afirma Roseli Romero, professora da USP em São Carlos.
Segundo os pesquisadores, a tecnologia terá de passar por alguns ajustes antes de chegar ao Brasil – já que foi testada nos Estados Unidos. A estimativa de custo para cada drone autônomo como esse é de R$ 60 mil.