Calendário do Fogo: plataforma vai ajudar a reduzir queimadas na região Amazônica

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As atividades humanas e eventos climáticos como secas extremas são as principais causas de fogo na Amazônia. Estudo de uma egressa da Universidade Federal de Lavras (UFLA) aponta que ao analisar a variação espacial e temporal da estação seca ao longo da bacia Amazônica é possível determinar os períodos com maior concentração de queimadas na região, e ao fazer uso das ferramentas propostas, ajudar a reduzir os focos de fogo em até 80%. Com esses dados foi possível criar um mapa de Períodos Críticos para toda a bacia Amazônica, identificando os meses com maior ocorrência de fogo para cada região, facilitando ações de controle. O calendário do fogo propõe que ações de prevenção e combate sejam concentradas em três ou quatro meses.

A pesquisa  internacional “Variação espaço-temporal na estação seca determina o calendário do fogo Amazônico” é liderada pela pesquisadora Nathália Carvalho, egressa da UFLA, atualmente doutoranda no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).Conta também com a participação de dois pesquisadores do Instituto de Ciências Naturais da UFLA, o pesquisador Cássio Alencar Nunes e o professor Jos Barlow, ambos do Departamento de Ecologia e Conservação. O estudo, publicado no periódico científico “Environmental Research Letters”, fará parte de um volume especial sobre “Associações entre mudanças climáticas, impactos humanos e fogo em ecossistemas terrestres”.

A pesquisa investigou as diferenças regionais na estação seca e as relacionou com a dinâmica do fogo na bacia Amazônica. “A pesquisa se baseou em dados de satélites sobre precipitação e fogo disponíveis gratuitamente.  A partir daí, realizamos análises espaciais e temporais para identificar as diferenças na dinâmica da estação seca e a sua relação com a distribuição espacial e temporal do fogo na Amazônia”, explica Cássio.

Nathália Carvalho acrescenta que “neste estudo enfatizamos que considerar uma única estação seca para toda a Amazônia não é adequado para caracterizar a ocorrência do fogo. Assumir a variação espaço-temporal desta dinâmica é fundamental para uma melhor definição de estratégias para o monitoramento, fiscalização e manejo do fogo na Amazônia”.

A pesquisa também contou com a participação de estudantes de doutorado do Inpe e pesquisadores de instituições nacionais e internacionais: Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, Universidade Estadual do Maranhão, Universidade de Lancaster e Universidade de Oxford. Os pesquisadores envolvidos no estudo possuem financiamentos de agências de fomento nacionais e internacionais: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), MAP-FIRE Project e Inter-American Institute (IAI).

 

Plataforma Calendário do Fogo

 

A plataforma “Amazonian fire calendar” é o ambiente onde são disponibilizados mapas e informações gráficas sobre a variação espaço-temporal da estação seca e das temporadas de fogo na bacia amazônica. Na plataforma, o usuário pode visualizar rapidamente informações como o início e fim da estação seca, meses de pico de fogo, período crítico de atividade de queima ao longo do ano, entre outras informações. Além disso, para acessar detalhadamente informações de algum ponto de interesse, o usuário também pode inserir informações de latitude/longitude na plataforma de maneira rápida e simples.  A plataforma possui uma interface intuitiva e de fácil acesso e fornece informações que podem apoiar os tomadores de decisão na definição de políticas públicas.

Acesse a plataforma pelo link:

https://amazonianfirecalendar.shinyapps.io/fire_amazon/

Além da plataforma, todos os mapas também estão disponíveis para download no link: https://doi.org/10.5281/zenodo.5706455

 

Mais sobre o estudo

 

Incêndios na região Amazônica estão fortemente relacionados ao desmatamento e à grilagem de terras, mas também constituem uma ferramenta utilizada por pequenos agricultores para manutenção de suas atividades de subsistência. Atualmente, os meses de pico de fogo na Amazônia são definidos baseados principalmente na dinâmica do fogo na região centro-sul da Amazônia, região do Arco do Desmatamento, onde a atividade de queima está concentrada principalmente entre Agosto-Setembro.

“Se considerarmos esse período para toda a Amazônia, nós provavelmente interpretaremos incorretamente a dinâmica do fogo em 48% da área da bacia, onde a atividade de queima está concentrada principalmente entre Outubro-Março”, destaca a pesquisadora Nathália.

Existe uma grande variação da estação seca na Amazônia, com padrões bem diferentes para os hemisférios Norte e Sul. Os picos de fogo se mostraram com uma sazonalidade muito bem definida, acompanhando os meses do final da estação seca. Em 52% da bacia Amazônica os picos ocorreram entre agosto e setembro e em 48% entre outubro e março.

“Assumir uma única estação seca para toda a bacia não seria adequado para caracterizar a ocorrência de fogo. Ao considerar, por exemplo, a estação seca dos epicentros de desmatamento (o Arco do Desmatamento no Brasil) estaríamos perdendo a informação correta para 48% da bacia. Além disso, o calendário do fogo definido com esse estudo, pode ser usado para o planejamento de ações para prevenção e redução de fogo”, explica Cássio Alencar.

Para melhor monitorar e controlar a ocorrência do fogo na bacia Amazônica é necessário compreender a sua distribuição no espaço e no tempo. Considerando que a realidade dos países que compõem a bacia Amazônia é de escassez de recursos financeiros para controle, manejo e combate do fogo, focar esforços e agir em meses críticos do calendário do fogo é algo essencial.

“Para isso acontecer é necessário primeiro conhecermos o calendário do fogo para a bacia como um todo. Apesar de sabermos da relação entre chuva (ou melhor dizendo, a falta dela) e a ocorrência do fogo, existem grandes diferenças regionais no início, duração, pico e fim da estação seca na bacia Amazônica”, enfatizam os pesquisadores.

 

Fonte: Universidade Federal de Lavras (Ufla)

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