Riscos de incêndios domésticos aumentam nos dias mais frios
Especialistas afirmam que se proteger do frio é uma necessidade, mas é preciso redobrar a atenção para se aquecer com segurança durante os próximos meses
Nos últimos dias, os termômetros da cidade de São Paulo registraram as temperaturas mais baixas desde 1994. Este prenúncio de um rigoroso inverno traz consigo o aumento na utilização de aquecedores, lareiras, fogões a lenha e outros métodos alternativos de aquecimento em ambientes domésticos. Estes dispositivos, no entanto, acentuam os riscos de incêndios em ambientes internos: segundo o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, uma média de 6.600 incêndios residenciais acontecem anualmente no Estado. De maneira geral, estes acidentes “decorrem de condutas inadequadas ou da inobservância de alguns procedimentos”, como evidencia a cartilha de segurança contra acidentes domésticos do órgão.
Segundo a Professora Rosaria Ono, especialista em Tecnologia da Arquitetura da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP, os aquecedores elétricos devem ser colocados afastados de objetos e materiais combustíveis, que podem se ignizar com o calor radiante emitido. Ela alerta ainda para as precauções com a fiação e a tomada: “O aquecedor deve ser ligado a uma instalação elétrica que suporte sua potência. Além disso, os fios não devem ficar esmagados ou retorcidos, pois há o risco de curto-circuito e sobreaquecimento da fiação, gerando calor e faíscas”.
A professora adverte que os aquecedores a gás também irradiam calor e, por isso, devem ser mantidos longe de materiais inflamáveis. Ademais, é necessário seguir fielmente as recomendações de instalação do fabricante para conter os riscos de vazamento do gás. Rosaria lembra ainda que, por queimarem combustíveis (GLP ou gás natural), estes equipamentos emitem resíduos prejudiciais à saúde, como o gás carbônico (CO2) e o monóxido de carbono (CO). Segundo ela, quando se usa este tipo de dispositivo, “é necessário ventilar os ambientes de tempos em tempos, para renovar o ar interno dos ambientes”. Vale ressaltar que as mesmas precauções devem ser tomadas durante a operação de lareiras, fogões a lenha, velas e outros utensílios que queimem combustível.
Os incêndios residenciais são potencialmente perigosos para casas de alvenaria, mas são muito mais destrutivos quando acontecem em construções de madeira, improvisadas e mal planejadas, como ocorre geralmente em favelas. Segundo Walter Negrisolo, coronel reformado do Corpo de Bombeiros e membro do Grupo de Fomento à Segurança contra Incêndio (GSI) do Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo ligado à Faculdade de Arquitetura da USP, os incêndios em favelas – como o que atingiu uma comunidade em Cidade Líder, na última terça-feira (14/6) – ocorrem por conta dos improvisos e pela ausência de infraestrutura adequada. Ele comenta que, nesses espaços, “dificilmente alguém consegue instalar adequadamente um botijão de gás”. Ele observa ainda que os incêndios em favelas são de difícil contenção “por conta do adensamento das moradias e da ausência de arruamento que permita o acesso aos veículos dos Bombeiros, com o agravante de não existirem hidrantes públicos nesses locais”.
Ainda sobre a seriedade dos incêndios em favelas, o Professor Valdir Pignatta e Silva, do Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica (PEF) da Escola Politécnica (Poli) da USP, avalia que a estrutura das casas, por ser geralmente mal projetada, “pode ruir durante um incêndio, abrindo espaço para o fogo propagar-se para as casas vizinhas, normalmente geminadas ou muito próximas”. Ele reitera que as residências são normalmente pequenas e, por isso, acumulam muito material combustível (madeira, tecido, papel, etc.) por área de piso, o que aumenta a severidade da combustão. “Em resumo, a quantidade de material combustível e a falta de projeto são os grandes responsáveis pela propagação mais rápida do fogo em favelas”, conclui.
Para conter o fogo em ambientes internos a professora Rosaria Ono reafirma a importância de detectar e combater as chamas rapidamente. Ela lamenta, entretanto, a imprudência da legislação brasileira neste sentido: “Infelizmente, a regulamentação no Brasil não exige extintores de incêndio no interior de residências”. Ela alerta que, ao combater incêndios de origem elétrica com água, é fundamental desconectar os equipamentos da tomada com antecedência. Rosaria ainda lembra que mais relevante que o combate é “a prevenção, o cuidado para que os incêndios não se iniciem”.
Fonte: Jornal da USP