UFMG vai auxiliar no combate a incêndios em áreas sob controle do Exército

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A UFMG e o Exército brasileiro assinaram, no dia 16 de março, um acordo de cooperação técnica para que as instituições possam realizar ações conjuntas de combate e prevenção de incêndios em áreas sob a administração do Exército. O acordo viabiliza o “intercâmbio acadêmico” entre as instituições “em assuntos estratégicos”, como registra sua cláusula primeira, com foco na área patrimonial imobiliária, de gestão ambiental e de sustentabilidade.

“É uma prioridade para o Exército combater incêndios que têm causado tanta preocupação para o nosso país – não só no Cerrado, mas também nas florestas –, e nós temos os mecanismos e o conhecimento de ponta para ajudá-los nessa missão tão importante”, destacou a reitora Sandra Regina Goulart Almeida na solenidade de assinatura do acordo, realizada no gabinete da Reitoria. “Essa é uma parceria muito relevante, em uma área estratégica para o país e para todos nós, que é a área do meio ambiente e da sustentabilidade”, acrescentou.

Os trabalhos serão viabilizados na UFMG pelo Centro de Sensoriamento Remoto (CSR), laboratório reconhecido internacionalmente que desenvolve pesquisas em análise e modelagem de sistemas ambientais, incluindo aplicações no desenho e na avaliação de políticas públicas. “Já fazemos esse tipo de pesquisa. O acordo vai nos possibilitar aplicá-la ainda mais em benefício do nosso país”, demarcou a reitora.

 

Parceria pioneira


Na assinatura do documento, o Exército Brasileiro foi representado pelo general Júlio Cesar de Arruda, chefe do Departamento de Engenharia e Construção (DEC), acompanhado pelo general de divisão Paulo Alipio Branco Valença, que é diretor de Patrimônio Imobiliário e Meio Ambiente (DPIMA) da instituição, pelo general de divisão Jorge Antonio Smicelato, que é comandante da 4ª Região Militar (4ª RM), e por Wilson de Castro Junior, consultor jurídico adjunto ao Comando do Exército, além de assessores do DPIMA e do DEC.

 

O general Arruda destacou as expectativas do Exército em relação à parceria, que considerou pioneira. “Temos áreas imensas destinadas a atividades militares de instrução. Esses locais, em determinadas épocas do ano, estão sujeitos a incêndios, e por mais que façamos um controle por meio de patrulhamento, ele não é efetivo. Com as ferramentas desenvolvidas na UFMG, acreditamos que, em médio e longo prazos, teremos um controle praticamente online dos focos de incêndio”, projeta. “Sempre discutimos no Exército como poderíamos melhorar esse controle. A parceria veio ao encontro do que estávamos procurando”, acrescentou.

Segundo o general, o acordo vai ajudar – “e muito” – o Exército a fazer um controle mais efetivo do seu patrimônio ambiental para preservá-lo. “O acordo é uma ferramenta valiosíssima para cuidarmos desse patrimônio e evitarmos que esses focos de incêndio continuem causando estragos”, disse. O Departamento de Engenharia e Construção, chefiado pelo general Arruda, é a instância responsável pela gestão – incluídas as perspectivas ambiental e de sustentabilidade – do patrimônio que está sob a jurisdição do Exército brasileiro. “Acredito que a parceria será boa para nós e também para a UFMG”, afirmou.

 

Relação ganha-ganha


Segundo Raoni Rajão, vice-coordenador do CSR e líder, pela UFMG, do acordo assinado, a Universidade tem mesmo a ganhar com a parceria. “O acordo nos possibilita aplicar uma tecnologia que já funciona no monitoramento dos parques e das unidades de conservação nas áreas de treinamento do Exército, que são muito extensas e também se constituem em focos de incêndio. Com isso, será possível realizar experimentos de manejo do fogo, monitorar as áreas via satélite, avaliar o comportamento de técnicas, dimensionar a capacidade dos nossos modelos de prever incêndios em diferentes condições, combinar ações conjuntas de combate a incêndios e monitorar sua efetividade. Isso vai nos possibilitar aprimorar a própria modelagem e a prescrição em relação a esse tipo de ação de combate de incêndios”, enumerou Rajão. Ele acredita que esse processo deverá gerar avanços a “serem revertidos para a proteção das próprias unidades de conservação”.

“Além disso, há um outro lado, que é uma discussão mais estratégica que operacional: com o acordo poderemos levar a inteligência gerada na Universidade sobre mudanças climáticas e geopolítica aos importantes debates nacionais”, destacou o pesquisador do CSR. “Temos, de um lado, o Exército, que vai ter menos episódios de incêndios em suas áreas, o que vai gerar um benefício para toda a sociedade, e, de outro, a UFMG, que, ao trabalhar junto com o Exército no desenvolvimento de ações – e se beneficiar de sua grande equipe [para atuar em campo] – poderá aprimorar as estratégias de combate a incêndios e até mesmo a capacidade do seu modelo de prever a dinâmica dos incêndios”, argumentou.

A professora Sónia Maria Carvalho Ribeiro, do Departamento de Cartografia do Instituto de Geociências, que assumiu, na última semana, a coordenação do CSR, explica que o modelo usado pelo laboratório alcança todo o território nacional com base em imagens de satélite. Ao mesmo tempo, segundo ela, é possível fazer análises de áreas específicas, como as militares e seus entornos, por meio de zoom.  “É um modelo espacialmente explícito para todo o território nacional, construído com base em imagens de satélite, mas que também possibilita o enfoque nas escalas necessárias”, disse.

“Esse projeto de cooperação tem duas partes: uma muito técnica e prática, que é a parte do modelo de espalhamento do fogo e seu combate, e outra, que também é técnica, mas também geopolítica, e diz respeito à produção de dados, com base em ciência, que podem embasar as tomadas de decisão. O CSR está preparado para atuar nessas duas vertentes: uma parte mais ‘no chão’, digamos, e outra mais focada na inteligência territorial, que deve resultar em melhorias na gestão do território nacional”, conclui.

O acordo assinado pela UFMG e pelo Exército brasileiro tem vigência de 60 meses e pode ser prorrogado.

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