Parceria entre cães e bombeiros é exitosa em operações de alta complexidade
Considerados os “melhores amigos dos homens”, os cães também são parceiros quando o assunto é resgate, auxiliando inclusive em atividades complexas atendidas pelos corpos de bombeiros no Brasil.
Com audição aguçada e faro preciso, esses animais, que convivem com os humanos há mais 30 mil anos, são essenciais no trabalho de busca. “Os nossos cães são de fato treinados para entregar esse serviço à sociedade e reforçar a capacidade de resposta de todo o Corpo de Bombeiros”, explica o tenente Romualdo Costa Filho, comandante do Núcleo de Operações com Cães do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia, à Agência Brasil.
O militar completa que os animais auxiliam no trabalho das forças no local de ocorrência para melhorar a capacidade da corporação, potencializando o trabalho das equipes, diminuindo o tempo levado para execução das tarefas, reduzindo custos e riscos. A seleção dos animais é criteriosa, além do treinamento ser realizado ainda quando filhotes, levando em consideração a raça, e outras funções.
“Todos nossos cães são formados desde filhotes, após passar por uma seleção rigorosa para buscarem odor humano no ambiente que estamos propostos a trabalhar. Buscam pessoas vivas e em óbito e, via de regra, são empregados em missões de desastre ou de pessoas que estão perdidas em áreas remotas”, acrescenta o tenente.
Parceria com cães
O Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão conta com Flecha, cadela da raça border collie que, desde 2020, integra o CBMMA e já participou de missões de resgate nas cidades de Petrópolis, RJ, e em Recife, PE. A primeira de busca atuante na corporação, a border collie foi treinada pela primeira-tenente Sarah Raquel Pinto Alves e sua equipe.
Em agosto, Flecha ganhou Certificação Nacional de Cães de Busca e Resgate, realizada pelo Conselho Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil (LIGABOM), em Fortaleza, CE.“Nós duas somos uma só. Eu dependo dela para trabalhar e eu tenho que confiar nela e essa é uma confiança que vai se desenvolvendo ao longo dos anos, ao longo dos treinos, das percepções. É necessário ter confiança”, salienta a militar.
Já o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal conta com dois labradores de destaque em salvamentos: Delta e Baruck. Segundo informações do CBMDF, o treinamento acontece desde quando são filhotes e é diário, porém para os cães é como se fosse uma diversão, já que após as atividades recebem recompensas, como o carinho da corporação. “Dentre as atividades estão a busca de pessoas em escombros, estruturas colapsadas, matas e afogados, estando vivos ou não. Após estarem aptos para o serviço, os cães ajudarão nas buscas com maior rapidez, fazendo o trabalho de até 20 homens. Além de serem eficientes, Baruk e Delta, conseguem trazer alegria aos bombeiros e aqueles que os conhecem”, explica nota.
Em Minas Gerais, os regates durante a tragédia em Brumadinho, em 2019, foram precisos por conta da participação dos cães. O Pelotão de Busca, Resgate e Salvamento com Cães (PBRESC) é subordinado ao Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad), que por sua vez, pertencente ao Comando Especializado de Bombeiros (CEB).
O tenente André Dutra, comandante do PBRESC, esclarece que a busca realizada pelos militares se baseia na visão e audição, utilizando o método de chamada e escuta, o que também se limita a um pequeno raio de detecção, enquanto o odor das vítimas é carregado pelo vento e pode ser detectado a mais de 300 metros por cães bem treinados, que seguirão a direção dos cheiros até a localização.
Dutra reforça que trabalho com os cães também implica outros fatores importantes, em especial a socialização, já que precisam lidar com outros animais, humanos, e serem submetidos a perda da sensibilidade a barulhos e à vários estímulos externos. Isso também engloba ao cão treinado não ter medo de água, altura, pisos instáveis, objetos e texturas desagradáveis. “É preciso apresentar ao cão o mundo de maneira positiva para que não tenha problemas futuros. À medida que ganha confiança, vamos inserindo dinâmicas para estimular interesse por brinquedos, que usaremos como recompensa. E aí seguem inúmeros detalhes minuciosos para formação de cada tipo de cão, mas que em resumo, aprendem a trabalhar para ganhar suas recompensas. Na verdade, quem trabalha somos nós, eles brincam de tentar ganhar o brinquedo”, frisa.
No CBMMG, bombeiro e cão recebem o nome de binômio e este condutor fica com o mesmo animal durante todo o trabalho, aprendendo juntos e criando e melhor comunicação e interação. “São os condutores que interpretam e treinam os cães, e em uma ocorrência essa interpretação pode ser o marco entre a vida e a morte”, informa o tenente.
Quando ocorre a aposentadoria? O militar informa que durante toda a trajetória do cão é acompanhada por veterinários, além de observar o desempenho e aptidão às funções. Caso não se adaptem ou mesmo se desgastem no decorrer das ocorrências, para não causar problemas aos animais, esses são substituídos. “É feita a doação do animal a um tutor que o receba em um ambiente mais compatível com suas características. Mesmo os cães ávidos por trabalho também têm a hora de parar, e aos oito anos são aposentados e podem curtir a vida nas residências de seus tutores, fazendas ou mesmo em sítios”, finaliza.
Foto: Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal