Pantanal em alerta: cinzas de queimadas ameaçam ecossistema e saúde humana
Após um incêndio, além de conter as chamas e calcular os prejuízos, outra demanda se faz presente: as cinzas que ficam no local e isso é um agravante quando o assunto envolve queimadas florestais. Um levantamento feito por pesquisadores de diferentes instituições coletou cinzas em quatro Unidades de Conservação (UCs) na parte norte do Pantanal para testes toxicológicos.
Os resultados mostraram fortes impactos não apenas na paisagem pantaneira, mas efeitos danosos com comunidades e populações de mamíferos e répteis que ali vivem, conforme explica Carolina Joana da Silva, presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera do Pantanal, professora na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), e coautora da pesquisa, ao site Ecoa.
“As cinzas estão causando impactos não visíveis aos nossos olhos. Em 2020 as imagens dos incêndios eram de jacarés e onças sendo queimados. O que aconteceu com o que não vemos? As cinzas quando são levadas para as águas entram no sistema aquático e são incorporadas”, endossa a especialista.
Impactos das cinzas
O estudo, intitulado “Cinzas de incêndios florestais: avaliação de ameaças à reserva pantaneira do Pantanal (Mato Grosso, Brasil) por meio de testes ecotoxicológicos”, feito por Silva, juntamente com os pesquisadores Lais Soranco e Nathan Oliveira Barros,investigou os efeitos das cinzas no fluxo de gases de efeito estufa provenientes do solo, analisando emissões de dióxido de carbono e metano.
“O que foi visto no microscópio é uma letalidade de 70%, entre indivíduos menores e microrganismos. São animais aquáticos que representam a base da cadeia alimentar no Pantanal. E pior, nem sabemos ainda se essa fauna aquática se recompôs, ou se houve redução. Usar fogo nesse ambiente sem saber ao certo qual é o impacto é um risco gigantesco”, alerta Silva.
Cenário
Dados da plataforma Monitor do Fogo do MapBiomas revelam que o Pantanal foi severamente afetado com 1,9 milhão de hectares destruídos pelo fogo entre janeiro a dezembro de 2024, um aumento 64% em relação à média de área queimada nos últimos seis anos.
A pesquisa, apontou ainda uma toxicidade persistente no bioma, ligada à contaminação contínua do solo e da água por elementos químicos presentes nas cinzas. “Esses indicadores são fundamentais para prever os efeitos ecotoxicológicos acumulativos no ecossistema’, destacam os cientistas participantes do estudo, ao site Caparaó News.
Foto: Henrique Arakaki, Midiamax