Incêndios florestais: pesquisadores do IPT avaliam impactos ambientais dos retardantes de chamas

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Os retardantes de chamas são utilizados para aumentar a eficiência e diminuir os impactos e os prejuízos causados pelo fogo, mas alguns compostos bromados e clorados são usados na composição de alguns desses produtos, gerando impactos no meio ambiente por não se degradarem na natureza e serem tóxicos aos seres vivos e bioacumulativos (se acumulam nos organismos de pessoas e animais). Muitos deles tiveram a sua produção e a comercialização restringida ou proibida na União Europeia e Japão, e integram a lista de poluentes orgânicos persistentes (POPs) da Convenção de Estocolmo.

Tendo como um dos objetivos esclarecer os efeitos químicos desses produtos, os pesquisadores Alexandre Muselli e Camila Camolesi, da Seção de Investigações, Riscos e Gerenciamento Ambiental do IPT, elaboraram uma rotina de ensaios para avaliar os potenciais impactos da aplicação dos retardantes no meio ambiente, considerando sua interação com o solo, a água e os organismos vivos.

Segundo os pesquisadores, a Seção de Investigações, Riscos e Gerenciamento Ambiental, da Unidade de Cidades, Infraestrutura e Meio Ambiente do IPT, já atua com trabalhos de avaliação de remediadores e efeitos de produtos químicos no meio ambiente. Neste sentido, a pesquisa teve início a partir da demanda de uma empresa brasileira para avaliação dos efeitos ambientais de um produto retardante de chamas, por exigência do IBAMA para liberação de sua aplicação para controle de incêndios na região do Pantanal. A investigação dos efeitos sobre o solo, água e organismos faz parte do processo de registro e autorização de uso desse tipo de produto no Brasil.

 

Dificuldades na legislação

 

Sobre o fato desses tipos de retardantes de chamas ainda serem utilizados no Brasil e no mundo, eles informam que a intenção é aumentar a eficiência dos processos de combate a incêndios, retardando ou eliminando a propagação das chamas no ambiente ou em determinado material. “Entretanto, devido a falta da revisão e atualização das legislações, não existe uma regulamentação clara, tampouco uma restrição dos compostos químicos que podem ser utilizados na fabricação desses produtos. Dessa forma, retardantes à base de compostos orgânicos halogenados (clorados e bromados), estão entre os mais utilizados, devido ao seu baixo custo e alta eficiência contra a propagação de chamas. Entretanto, suas características químicas lhes conferem potencial de causar efeitos nocivos no meio ambiente, por serem persistentes, lipofílicos e apresentarem elevado potencial para bioacumulação”, informam.

Os especialistas destacam que ainda são necessários maiores estudos, principalmente no que tange às práticas de operação dos retardantes de chamas, seja por meio de aplicações manuais, por veículos terrestres ou aéreos. “Porém, é necessário principalmente o desenvolvimento de diretrizes pelo órgão ambiental competente para a aplicação segura do produto, considerando a dosagem indicada pelo fabricante, a quantidade aplicada por área e as restrições de aplicação de acordo com as características do ambiente de interesse. Por exemplo, se o produto apresentar toxicidade a organismos aquáticos, deve-se considerar a distância mínima segura de aplicação do produto em relação a corpos d’água”, explicam.

Eles comentam que os efeitos que esses compostos podem causar na saúde dos combatentes que atuam nos incêndios, ou seja, o estudo dos efeitos sobre a saúde humana não está contemplado no projeto. “A análise realizada abrangeu os efeitos do produto sobre a qualidade do solo, água e toxicidade a organismos terrestres e aquáticos”, frisam.

 

Criação de diretrizes

 

Os pesquisadores salientam que, ultimamente, o mercado tem buscado o desenvolvimento de produtos biodegradáveis, utilizando-se produtos orgânicos em sua composição, que possuem um tempo de permanência menor no ambiente após sua aplicação. “Como estes produtos estão em processo de desenvolvimento e validação, as empresas têm procurado o IPT como um apoio na condução de estudos de avaliação dos potenciais impactos ambientais, sendo uma forma de validar o produto perante o órgão ambiental, mesmo sem existência de uma legislação específica para tal”, contam.

Em termos normativos, não existe legislação ou normas específicas atualmente para aplicação dos retardantes de chamas para combate a incêndios florestais. “Espera-se que os dados gerados pelas pesquisas dos efeitos desses produtos e dos métodos de aplicação, bem como o aumento da demanda pelo registro desses produtos no Brasil, estimulem a criação de orientações e diretrizes pelos órgãos ambientais federais para aplicação segura dos retardantes de chama no país”, avaliam os pesquisadores. Eles citam que os parceiros do IPT nesta pesquisa são as empresas fabricantes, importadores e comerciantes de retardantes de chamas no Brasil.

A expectativa com essa pesquisa, de acordo com eles, é a obtenção de informações que possam subsidiar a criação de diretrizes e orientações no Brasil para a aplicação segura dos retardantes de chama no auxílio ao combate aos incêndios florestais, de forma a reduzir os impactos ambientais que podem ser causados por essa prática. “Além disso, espera-se estimular o mercado no desenvolvimento de produtos ambientalmente mais adequados, bem como subsidiar a tomada de decisão de gestores e profissionais da área”, concluem Alexandre Muselli e Camila Camolesi.

 

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