Em comissão da Câmara, especialistas discutem soluções para as queimadas na Amazônia
Depois de bater recordes de queimadas em 2015, 2017 e 2019, a Amazônia registrou neste ano o pior mês de março da série histórica de alertas de desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Foram 367 km² de devastação, 12% a mais do que em março de 2020. Diante disso, a Comissão Externa da Câmara dos Deputados sobre Queimadas nos Biomas Brasileiros ouviu no começo de maio uma série de especialistas acerca de soluções para problemas que, como se pode ver, vêm se repetindo.
A situação, aliás, piorou em abril, com 581 km² desmatados, 42% a mais do que o mesmo mês do ano passado. O rastro da vegetação desmatada neste período chuvoso na Amazônia serve de combustível para alastrar futuras queimadas nos períodos mais secos do ano.
Para enfrentar o desafio, os especialistas consultados recomendaram o fortalecimento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além da intensificação da fiscalização pelas secretarias estaduais de Meio Ambiente. Reforçaram também a importância do combate à invasão de garimpeiros e grileiros em terras indígenas e em unidades de conservação, e o incentivo à economia de base florestal.
Para o coordenador de queimadas do Inpe, Alberto Setzer, o País conta com instrumentos para enfrentar o problema, mas esbarra em falta de recursos e organização. “Sabemos como resolver porque o Brasil tem todos os elementos para isso, sejam intelectuais, técnicos e científicos”, disse, segundo a Agência Câmara de Notícias. “Faltam uma coordenação e a garantia de recursos e de estabilidade para as instituições”.
Já a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, ressaltou que, nos últimos 20 anos, a Amazônia foi o segundo bioma mais afetado por queimadas, atrás apenas do Cerrado. Disse ainda que o combate a essa situação é fundamental para o cumprimento das metas climáticas internacionais. “O desmatamento na Amazônia tem papel fundamental nas emissões brasileiras: 44% das emissões no Brasil são relacionadas à mudança de uso do solo” afirmou. “A forma mais barata de reduzir as emissões é combater as queimadas e o desmatamento”.
Por fim, a professora do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente na Universidade Federal do Acre, Sonaira da Silva, lembrou que os incêndios florestais têm impacto também na saúde da população. Em 2020, disse, várias cidades do Acre ficaram por mais de 50 dias com o nível da qualidade do ar muito abaixo do recomendável pela Organização Mundial de Saúde em virtude da fumaça que se espalhou pelo estado.
Representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Fundação Nacional do Índio (Funai) também participaram da audiência pública na Câmara.