Aumento do número de mulheres nas corporações de bombeiros mostra que profissão também é feminina

O 8 de março não é apenas marcado pelo Dia Internacional da Mulher, mas também é mais um dia de luta por direitos e isso deve ser lembrado o ano todo. E no âmbito da profissão de bombeiro o cenário não poderia ser diferente: mesmo diante das desigualdades, a presença de mulheres nas corporações está em evidente crescimento.

A profissão, porém, é ainda predominantemente masculina. Para se ter ideia, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais reserva 10% das vagas para mulheres nos concursos. Contudo, 91,55% da corporação é composta de homens. Fundado em 1911, Corpo de Bombeiros do estado recebeu a primeira turma formada por mulheres em 1993 e a proporção é de uma mulher para cada 11 homens.

Bombeiras têm carreira promissora

Em 2020, a estudante do curso de Direito da Universidade do Vale do Taquari (Univates), no Rio Grande do Sul, Tatiane Cezimbra Freitas, de Arroio do Meio, pesquisou a igualdade de gênero e o acesso feminino à carreira no Corpo de Bombeiros Militar do RS.

Atuante na profissão, Tatiane observa que as primeiras mulheres a ingressar nas corporações também descreveram a necessidade de lutar para provar a capacidade de exercer a profissão como qualquer colega homem. “A desigualdade de gênero resulta de uma cultura patriarcal que ainda prepondera nas relações profissionais”, conta.

Dados oficiais do site do Corpo de Bombeiros do estado mostram que atualmente são 2.720 militares em atividade e desse número, 236 são mulheres, ou seja, 8,6% do total. Das 236 mulheres atuantes, 52,11% responderam ao questionário aplicado por Tatiane, em um total de 123 respostas, 70% das entrevistadas relataram perceber desigualdade de gênero na instituição.

A orientadora da estudante, a professora Elisabete Cristina Barreto Müller, frisa a importância de discutir esse tipo de problemática no contexto acadêmico. “Se buscamos um mundo melhor, de respeito e solidariedade, não há outro caminho que não o da igualdade”.

Avanços

“Precisamos sempre refletir sobre o que é ser mulher. Ingressei com 22 anos no serviço público e, até então, nunca tinha refletido sobre a importância que tem uma mulher ocupar um cargo de chefia. Nós, mulheres, sabemos o que precisamos e somos as melhores pessoas para falarmos sobre políticas públicas para mulheres e o que é importante para nós”. Essas são as palavras da vice-governadora do Pará, Hana Ghassan, durante a homenagem às mulheres que atuam no Corpo de Bombeiros Militar do estado, ocorrida em 8 de março.

Uma das homenageadas foi a 1º Tenente Bombeiro Miréia Cafezakis Moutinho, considerada pioneira a se tornar bombeira militar do Pará. “Quando entrei para a Corporação em 1994, era quase uma menina e, apesar da caserna naquela época ser extremamente machista, gostávamos de estar no quartel, estar de serviço, ir para missões perigosas”, disse.

“A carreira militar, principalmente a profissão bombeiro, é muito associada ao homem pela questão da força física. Ter sido a primeira colocada foi uma prova de que nós mulheres podemos alcançar vários locais, vários lugares, podemos ir atrás do nosso pioneirismo passando por cima de algumas barreiras que, às vezes, nós mesmas colocamos nas nossas mentes. Estamos provando a nós e a outras pessoas que conquistamos nosso espaço e somos merecedoras de onde nós estamos”, comemorou a 2° Tenente QOBM Iara Ferreira Santos, ao receber a medalha “Tenente Coronel BM Francisco Feliciano Barbosa –  Dedicação ao estudo”, pelo 1° lugar geral no Curso de Formação de Oficiais (CFO).

Em 2022, a corporação do Pará registrou a atuação das primeiras oficiais femininas a alcançarem os postos máximos entre o quadro de combatentes, sendo elas as coronéis QOBM Samara Cristina Romariz de Carvalho e Vivian Rosa Leite.

O caminho a ser percorrido pelas mulheres é longo e repleto de desafios, o que exige ainda mais coragem para avançar. E isso elas sabem muito bem.

Foto: Tatiane Cezimbra Freitas, estudante de direito e bombeira. Crédito: UNIVATES/DIVULGAÇÃO/CIDADES