Sprinklers: diferenças entre produtos certificados e paralelos
Um dispositivo voltado para o combate a incêndios deve contar com requisitos que atestem sua qualidade e confiabilidade. São o caso dos chuveiros automáticos, os chamados sprinklers. Entre a diversidade de ofertas, o mercado atual se depara com os produtos certificados x paralelos, estes nem sempre confiáveis e passíveis de garantir a segurança necessária para as pessoas e empreendimentos.
Segundo o Instituto Sprinklers Brasil (ISB), que produz estatísticas de incêndio a partir de notícias veiculadas na imprensa, no bojo dos incêndios que ocorrem rotineiramente em todo o País não há como elencar se o sprinkler foi primordial para evitar alguma tragédia e outras situações em que o sistema pode ter falhado, já que não existe um sistema nacional que recolha as estatísticas dos próprios Corpos de Bombeiros e as publique de maneira regular, colaborando para termos um índice de ocorrências com mais precisão no Brasil.
Segundo Marcelo Lima, diretor-geral do ISB, o mercado interno de sprinkler é atendido basicamente por fabricantes internacionais e por um fabricante nacional. Além disso, existe um grande influxo de sprinklers mais simples, usados geralmente para riscos leves vindos da China. Segundo o especialista, o nível de qualidade dos sprinklers de origem chinesa em comparação com os fabricados no Brasil ou vindos dos Estados Unidos é o que diferencia a maioria dos produtos comercializados.
Para destacar a importância da qualidade desse produto, Lima explica que um bico de sprinkler é um tipo de equipamento que não pode ser testado toda vez que é comprado. “A comparação mais comum é com um palito de fósforo. Você não testa o palito de fósforo para saber se ele é bom. Você só vai saber se é na hora que precisar usar. O sprinkler é igual. Então, ele tem que sair da fábrica com uma garantia de qualidade representada pela certificação de produto ou certificação de terceira parte como é feito nas empresas dos Estados Unidos”, esclarece.
Para Lima, o problema desse mercado no Brasil está no fato de que grande parte dos sprinkles oriundos da China não tem qualquer tipo de certificação. “Quem usa esse produto está se arriscando. Estamos vendo usuários colocando essa mercadoria no sistema de proteção contra incêndio que não vão funcionar quando forem solicitados e isso pode acontecer num prazo de cinco, dez anos. Portanto, considero que a principal medida para garantir a qualidade é utilizar produtos certificados”, pontua. Ele avalia ainda que é fundamental adotar a Inspeção, Teste e Manutenção (ITM) não só do sistema de sprinkler, mas do projeto de combate a incêndio como um todo.
Universo das certificações
A Associação Brasileira de Sprinklers (ABSpK) é a entidade que apoia as normas de proteção de incêndio relacionadas a sprinklers. Em 2018 foi publicada a revisão da norma ABNT 16400:2015. Ela define os critérios mínimos de certificação de sprinklres de baixa vazão, muito utilizados em ambientes residenciais e comerciais. De acordo com Edgard Lyncoli, coordenador do Comitê Técnico da ABSpk, a revisão melhorou as exigências dos padrões de testes requeridos para comprovar a qualidade de funcionamento dos aparelhos. “Laboratórios certificadores acreditados pelo Inmetro são responsáveis pela fiscalização e realização desses testes, assim como laboratórios internacionais reconhecidos como a Underwriters Laboratories (UL) e FM Approvals, chamados de Organismos de Certificação de Produtos (OCP)”, acrescenta.
Outra norma que atende a certificação desse produto é a NBR 10.897, voltada para especificar os requisitos mínimos para o projeto e a instalação de sistemas de proteção contra incêndio por sprinklers, incluindo as características de suprimento de água, seleção de chuveiros automáticos, conexões, tubos, válvulas e todos os materiais e acessórios envolvidos em instalações prediais. “Logo, uma norma define como os sprinklers devem ser construídos e testados e a outra informa como os sprinklers devem ser escolhidos, projetados e instalados, respectivamente”, enfatiza Lyncoli.
Para Edgard Lyncoli, muito embora de forma superficial possa parecer simples contratar um projeto de sistema de sprinklers, a capacidade de interpretação de norma vai mais além, pois exige do projetista a habilidade de compreender os riscos, classificá-los, e escolher o melhor projeto de proteção. “Nesse sentido, a ABSpk vem realizando um trabalho junto ao Senai para criar um programa de certificação de projetistas de sistema de sprinklers. Além disso, a associação lançou um Manual de Inspeção, Testes e Manutenção para Sistemas de Sprinklers que pode ajudar, mas a escolha de uma empresa especializada será importante para um projeto de combate a incêndio eficiente”, acentua.
Diferenças de qualidade
Entre os fatores técnicos que diferenciam um sprinkler certificado de um sem essa chancela, Lima, do ISB, considera questões que vão desde o material até os procedimentos de controle de qualidade aplicados na fábrica e os ensaios aos quais são submetidos. Além disso, ele lembra que o sprinkler é uma válvula ligada por um elemento termossensível e necessita de uma vedação eficiente.
“A vedação é um requisito relevante na forma de como é fabricado o produto, que às vezes é complicada de fazer, pois tem uma tecnologia específica. Uma solução que se usa, especialmente nesses bicos de baixa qualidade que vem da China, é colocar um anel de borracha chamado O-Ring. Ele veda muito bem, porém com o tempo esse material começa a se decompor e temos conhecimento de vários casos de sprinklers que não funcionam por causa disso, justamente porque a vedação age como se formasse uma cola por dentro do sprinkler que impede sua abertura no momento em que precisa ser acionado”, detalha.
Por isso, Lima destaca que tanto normas brasileiras como americanas de fabricação de sprinklers proíbem o uso do anel O-Ring. “Entretanto, no Brasil estão sendo instalados vários desses bicos porque são trazidos do exterior sem a exigência da certificação e o cumprimento das normas”, atenta.
Lyncoli, da ABSpK, aborda que um sprinkler é submetido a uma série de ensaios para comprovar sua performance e segurança, entre eles, testes de pressão acima da operação de trabalho, provas de descarga de água dentro da área de operação, teste de tempo de resposta de abertura quando exposto a temperatura de operação, e, inclusive, alguns processos de certificação internacionais com os da UL e FM que incluem amostragens de corrosão quanto a sprinklers expostos em ambientes salinos, ou certificações específicas para testes em sprinklers expostos em atmosferas corrosivas. “Todos esses exames são importantes para garantir que um sprinkler vai operar no momento certo e distribuir as gotas de água de maneira uniforme para controlar e suprimir o incêndio”, observa.
Ele lembra também que quem compra um sistema de sprinkler é um usuário final e que não tem conhecimento específico em reconhecer se o que está sendo adquirido está correto ou não, portanto é importante analisar algumas orientações expostas na norma NFPA 4 (National Fire Protection Association). A NFPA 4 é um código nacional no mercado americano, que define que um sistema de proteção contra incêndio precisa de três personagens: o responsável pelo projeto básico, que além da sua elaboração acompanha a execução do projeto até a sua entrega, afim de aferir que tudo está instalado e em funcionamento como idealizado no projeto inicial; o responsável pelo desenvolvimento do projeto executivo; e a empresa responsável pela instalação. “Inicialmente todo esse processo parece muito burocrático e caro, porém a intenção da NFPA é garantir que um projeto de proteção contra incêndio seja auditado por empresas independentes para validar que está tudo correto e adequado”, esclarece.