Ocorrências veiculares levam bombeiros a se capacitarem mais para otimizar atendimento
As vendas de veículos novos no Brasil tiveram em novembro um crescimento de 19,2%, ou seja, foram comercializados em torno de 250 mil automóveis, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus, o maior volume em novembro dos últimos dez anos, de acordo com a Fenabrave, entidade do setor de concessionárias.
Esse índice não apenas demonstra um crescimento no setor, mas também discussões sobre a segurança, o que vai do trânsito até o do próprio veículo. Recentemente, o Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC), em São José, atendeu, pela primeira vez, um incêndio que danificou o interior de uma residência,de três andares, que tinhaum veículo elétrico em carregamento na garagem.
Automóveis elétricos
Segundo a corporação, ao todo, foram utilizados 21.500 litros de água em uma operação que durou 30 minutos.Após o controle das chamas, a laje desabou sobre o veículo, dificultando o rescaldo.“Esse combate foi realizado externamente, por conta de risco de desabamento da estrutura da casa.Veículos elétricos apresentam riscos específicos em um incêndio, como a possibilidade de reignições e a liberação de gases tóxicos, exigindo protocolos adaptados para garantir a segurança e a precisão nas análises”, informa nota.
Segundo o site AutoinsuranceEZ, que compila dados de seguradoras nos EUA, a cada 100 mil carros elétricos, apenas 25,1 pegaram fogo em 2021. Já entre os modelos a combustão, ocorreram 1.529,9 incêndios para cada grupo de 100 mil veículos.
Falando em combustão e fazendo um recorte, no estado de São Paulo, um levantamento da Agência de Transporte local (Artesp) mostra alta de 17% no número de carros que pegaram fogo nas rodovias paulistas em 2023:foram registrados 513 casos, ante 439em 2022, informa o site AutoPapo.
Volta dos extintores
Em novembro, a Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor (CTFC) aprovou o PLC 159/2017, da Câmara, que pode tornar obrigatória a volta do extintor de incêndio com pó ABC em veículos. O texto recebeu parecer favorável do senador Eduardo Braga (MDB-AM) e segue agora para votação no Plenário do Senado.
Braga, em seu parecer, argumenta que os extintores são de fácil operação e eficientes no combate a incêndios e informa que 17% dos recalls de automóveis no Brasil ocorrem por falhas que poderiam causar incêndios.“Os bombeiros não têm estrutura para assegurar as vítimas com a devida celeridade, e faz diferença um instrumento como esse nos carros, já que os fabricantes não são obrigados a incluir o extintor quando da produção dos veículos. É uma questão de garantir segurança e essa presença pode, de fato, ser determinante para coibir sinistros graves”, afirma à Agência Senado.
Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai são signatários da Regulação Básica Unificada de Trânsito, decreto de agosto de 1993, que prevê o extintor de incêndio como obrigatório à circulação de veículos entre os países, frisa o político.
Segundo reportagem do Estadão Mobilidade, a obrigatoriedade do extintor em automóveis (passeio, utilitários, camionetas, caminhonetes e triciclos de cabine fechada) de uso pessoal vigorou entre 1970 e 2015, quando o Conselho Nacional de Trânsito (Contran)a revogou. Houve outras tentativas, nos anos de2017 e 2019, sem sucesso.
Para a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), a tecnologia automotiva evoluiu muito, o que reduziu bastante o risco de incêndios nos veículos. “A AEA gostaria de enfatizar que o retorno da obrigatoriedade de extintores não se aplica no Brasil porque não surgiram fatos novos que necessitem de uma revisão técnica”, frisa Hilton Spiler, diretor de Segurança Veicular da AEA, ao jornal.
De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), ao AutoPapo, destaca que o item só pode ser utilizado por quem saiba utilizá-lo ou quando está no princípio de chama. “É essencial acionar o Corpo de Bombeiros, ligando para o número 193 e se distanciar do automóvel. Não é indicado que pessoas sem treinamento façam combate ao incêndio, a não ser que seja que seja começo e que a pessoa disponha de um extintor adequado”, pontua o tenente Henrique Barcellos, porta-voz do CBMMG.
Já o Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE), ao Portal do Trânsito, reitera que mesmo não sendo mandatório, o item é importante: “É mais umdispositivo de segurança, que pode ajudar a combater princípios deincêndios, evitando que aumentem ou mesmo até extingui-los. Em muitos países, aliás, apresença de um extintor de incêndio em um veículo é uma exigência legal”, endossa o órgão.
Simpósio no Amapá
No Amapá, em novembro, foi realizado o 1º Simpósio Regional de Tendências e Inovações em Salvamento Veicular do Corpo de Bombeiros, com corporações militares do Brasil como Distrito Federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Sergipe, Bahia, Roraima, Pará.Em pauta,novas tecnologias, estratégias nas operações de salvamento, equipamentos e primeiros socorros nas ocorrências de trânsito, além da promoção de debates e palestras com painéis interativos e atualização profissional.
Na visão do coronel Pelsondré Martins, comandante do Corpo de Bombeiros Militar do Amapá (CBMAP), o resgate é um dos mais arriscados, já que o desencarceramento de vítimas em acidentes automobilísticos envolve um complexo trabalho técnico e sob condições extremas de estresse da equipe.
“É a atividade mais extrema. Temos uma gama de procedimentos, mas nos encarceramentos veiculares trabalhamos no limite entre a vida e a morte, na ânsia de tirar os envolvidos neste tipo de ocorrênciao mais rápido possível do carro, com as técnicas certas”, conclui o militar.
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