Perícias em incêndios: a chave para o entendimento das chamas
A conclusão de um incêndio não se esgota após a extinguir as chamas; se faz necessária uma investigação minuciosa, ou seja, a perícia, para o entendimento do fogo, os danos estruturais causados, ou mesmo questões e danos já presentes no local da ocorrência, a situação de vítimas e outras demandas.
Também não é somente os bombeiros que ficam a cargo dessa função: é acionada uma equipe multidisciplinar, com a ajuda da polícia científica, Defesa Civil, coleta de informações de testemunhas e, dependendo da proporção do caso, são acionados órgãos municipais e estaduais.Tal função importante, entretanto, ainda não está presente em todo o Brasil: para se ter uma ideia, um estudo do Comitê Nacional de Perícia do Conselho Nacional dos Comandantes Gerais dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil (a Ligabom) indica que apenas 16 estados contam com investigação ou perícia de incêndio e explosão.
Formação em Perícia
Na outra ponta, o Brasil conta com o Curso Nacional de Especialização em Perícia de Incêndio e Explosão,uma pós-graduação oferecida em três polos: Centro-Oeste/Norte, em Cuiabá, MT, Nordeste, em Salvador, BA, e Polo Sul/Sudeste, em Vitória, ES, sendo uma parceria entre as corporações desses estados e a Ligabom.
“A perícia de incêndios e explosões faz parte do ciclo operacional da segurança contra incêndio. Os incêndios precisam ser evitados e, para tanto, é necessário investigar para saber de fato o que aconteceu, reunir informações, revisar normas de segurança e melhorar ou modificar os recursos de prevenção. É uma construção, possível apenas com a análise pericial de cada caso”, esclarece um dos instrutores, o coronel Scharlyston Martins de Paiva, do Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo (CBMES).
“O Espírito Santo se destaca nacionalmente na temática e levar o nosso conhecimento às corporações é um intercâmbio imprescindível para a construção de uma cultura preventiva”, frisa o militar, que tem em seu currículo especialização em perícias de incêndio, além de presidie o Comitê Nacional de Perícia de Incêndio (Conapi) daLigabom, da Associação Brasileira de Investigadores de incêndio (Abinvi) e do Capítulo 80 (Capítulo Brasileiro) da Associação Internacional de Investigadores de Incêndio (IAAI).
O Curso de Especialização está em sua primeira edição, tem carga horária total de 426 horas, iniciado em julho de 2024 e previsto para término em maio deste ano.
Simulações
Em Cuiabá, um dos polos do curso, 28 participantes, entre civis e militares, adquirem conhecimentos que combina ensino à distância (EAD) e presencial, sendo 18 bombeiros militares de Mato Grosso, três peritos da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), e sete oficiais dos Corpos de Bombeiros Militares dos estados de Rondônia, Espírito Santo, Goiás, Roraima e Tocantins, entre os alunos nesse polo.
Essencial na atividade desses profissionais, as simulações são ainda mais aprofundadas, já que requerem a também simular a documentação dessas perícias, o que envolve a coleta de evidências, modelagem computacional, práticas de explosivos, mecânica e elétrica, além de perícia florestal.
“A prática desempenha um papel crucial na formação, permitindo que os alunos adquiram as habilidades necessárias para atuar com precisão na investigação de incêndios em situações reais. A especialização possibilita ainda desenvolver campanhas preventivas mais eficazes, ações educativas para redução de riscos em edificações comerciais, residenciais e áreas florestais”, completa a tenente-coronel BM Karina Matos de Oliveira, coordenadora do curso no Corpo de Bombeiros Militar do estado (CBMMT).
Capacitação técnica e científica
Iniciativas também se espraiam em outros estados. Em Santa Catarina, a corporação realizou o Curso de Perícia em Incêndio do Corpo de Bombeiros Militar do estado (CBMSC), com atividades no Centro de Pesquisa e Inovação, em Florianópolis, na qual os alunos vivenciaram uma imersão nos principais procedimentos e tecnologias utilizadas na investigação de incêndios.
Na oportunidade, foram apresentados os equipamentos utilizados nos ensaios laboratoriais de incêndios, ideais para detecção de agentes acelerantes, identificação de resíduos pós-incêndio e ensaios de comportamento ao fogo em materiais diversos.
“Houve também uma visita à Polícia Científica do estado, onde os alunos puderam compreender os métodos aplicados à investigação, o que reforça a importância da integração entre as diferentes áreas da perícia técnico-científica para a elucidação das causas dos incêndios”, informa nota.
Foto: CBMMT